A incompetência sempre foi uma tônica marcante no sistema de meritocracia instalado por aqui. Ela acomete espécimes vários; por vezes incautos, por vezes, ladinos. Tradicionalmente, sempre convivemos com essas espécies espalhadas por todos os recantos da administração pública. Ironicamente, na iniciativa privada, apesar das exigências mais rígidas, eles também se criam. Em qualquer setor, contudo, a aparição deles parece seguir uma regra tácita e pétrea: mostrou algum grau de incompetência, vai para o começo da fila. Isso quando não viram os protegidos de primeira hora no organograma institucional e no sistema de promoções.
Tal aceitação tem explicações, claro. O incompetente, geralmente, é afável; troca suas limitações por afagos dedicados a quem de direito. Também é falante, simpático e dedicado às atividades triviais e prosaicas do ambiente de trabalho; raramente um incompetente é um mega chato. Claro que as exceções existem, mas, até o final da edição deste textículo, ainda não havíamos recebido os últimos levantamentos acerca dessas ocorrências.
Por outro lado, quando alçado a algum posto de chefia, o incompetente se transforma. De uma criatura suportável dentro dos limites, torna-se uma excrescência coroada. Um abacaxi estragado, mas com ornamentos no cocoruto. Pensa ele que uma repentina e arranjada ascensão confere, automaticamente, ao portador um naco de poder. Para exercê-lo, por não ter maiores atributos vocacionais e habilidades profissionais, ele incorpora um papelzinho qualquer para fiscalizar e cobrar trivialidades. A indumentária de capataz lhe cai bem.
Mas a maior habilidade do incompetente talvez seja a capacidade de adular os chefes; troca fácil a capacidade laborativa por uma boa habilidade de lamber botas, a velha e boa bajulação. O incompetente comum desfila pelos salões com sua fantasia festiva. A fauna, porém, é variada. Não estranhe se do nada um mastodonte se materializar na sua frente, portando toda a sutileza que seu corpanzil admite. Vão sobrar arrogância, nariz empinado e um certo ar de superioridade intrínseco.
Nos últimos tempos, no nosso Brasil in-varonil, verifica-se uma verdadeira onda de incompetências laureadas. Emergiram das catacumbas, do segundo plano e da coadjuvância inofensiva. Empoderados, feito zumbis devoradores de cérebros, ocuparam o proscênio, compondo um espetáculo grotesco e potencialmente perigoso e antiproducente. Afora, claro, suas grandes contribuições satânicas para os ambientes de trabalho: a desarmonia, o desequilíbrio e o desestímulo.Vivemos a época do elogio da mediocridade, da nulidade e da incompetência congênita.
Infiltrados. Podem ser concursados, de carreira ou em comissão. Se espalham pelas administrações estatais, forças armadas, judiciário, relações exteriores, enfim. No campo político, outra pá de gente estranha, devidamente eleita e empossada. O certo é que escancararam o portal desse inferno particular da vida brasileira e as incompetências puseram a cara fora da máscara. Além das trapalhadas, naturais da espécie, o discurso que eles proferem serve para compor a pantomima. Incompetência gourmet, mal falante, servida em pratos devidamente sujos.
Para terminar esse texticulo é preciso dizer que o jornalismo e o mundo artístico não escapam dessa onda não. Sem surpresa alguma, pela cena artística figuram certa incompetência para criar (a intrínseca falta de talento) e capacidade de gerenciar a carreira, pecado de quem se acha liberal, mas não sobrevive às leis de mercado. Do lado jornalístico, a fala comprometida vem demonstrando a incompetência de velhísimas raposas da comunicação brasileira, que só conseguem ser independentes quando o vento sopra a seu favor.
O que salva - ou pode dar sobrevida - a essa galera é que a categoria “incompetente” não é titulo que se lance no currículo. A marca não se fixa no papel, vai estampado na testa mesmo. Afinal, quem vê cara só vê cara.
por Edson de França
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