terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sintonias Afoitas

Se tiver de vir
que venha de manso
mas com o dom da loucura
só pra fazer feliz
esses dois coraçoes
em sintonias afoitas.

que a partir de agora
tudo seja sério
palavras e gestos
que aquilo que toque
seja mais que sonho
seja só descobrir:

a saber que o amor
é bem mais que o som
de letrinhas gentis
contar quantas palavras
cabem no meio
da espressão solidão

que a saudade que mata
tortura, maltrata
ou até faz chorar
é bem mais que o tom
dolorido do ser
que se encontra sozinho.

P.S. Um pouco de música para uma terça-feira quente e uma ousadia (afoita) do compositor (meio frustrado, é certo) em mim!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Apresentação - IMPULSO

Os poemas publicados recentemente sob a rubrica de Impulso fazem parte de uma exposição realizada por mim, na Biblioteca Central da UFPB, em 1997. Foram incluídos na Exposição, cerca de 25 poemas que compunham um esboço de um livro, a ser lançado sob esse título. O livro não saiu, mas os poemas continuaram ao meu redor como crias pedindo visibilidade. Aproveito, oportunamente, o espaço do blog para dar-lhes um pouco de presença, como um pai que não negligencia suas crias, sobretudo, quando elas continuam soprando diuturnamente alguma coisa ao ouvido, pedindo revisitação, ressignificações, ajustes. Abaixo, reproduzo a Apresentação da exposição, cujas idéias expostas, de certa forma, ainda mobilizam o impulso poético do poeta encarnado em mim.

XXXX

Em vários poemas escritos durante a trajetória de zil poetas, a temática gira em torno do ato de escrever poesia (o que faz algumas pessoas serem poetas) ou sobre os elementos que inspiram os poetas (O que os move ou "comove"). Essa é uma temática eterna: Porque escrevemos? O que nos move? Uma resposta definitiva, provavelmente é impossível. Talvez o que nos mova seja a possibilidade de contactar o outro, numa linguagem específica, em um território neutro, onde cada um (sejam poetas da palavra, do traço, dos atos ou da vida, os que não emitem som algum ou aqueles multissonantes ou, simplesmente, aquele que pára em frente a um mural para fruir um poema) tenta tão somente tocar o outro. Um toque sensual, profundo, humano. A poesia não deve ser apenas um exercício interno, íntimo, apesar de ser, em muito fruto de uma atividade solitária. Um olhar que vagueia. Solitário. Uma observação mais acurada sobre a vida que se descortina nas ruas ou nos recônditos complexos de um outro ser. O IMPULSO primeiro, aquele que move o ser em direção ao objeto desejado ou a qualquer outro objetivo, de onde emana a resposta afirmativa e a repulsa descontrolada, cada qual por sua razão particular, é em parte o que explica a ação. IMPULSO é a ação do poeta na produção, no martelar dos erros, na malhação dos poemas, reelaborando-os, jogando muitos fora, não reconhecendo plenamente a paternidade de alguns, assumindo outros e reconhecendo, por fim, na linguagem de outros escribas, coisas que gostaria de ter dito. Essa é a ação poética, o exercício que não se esgota em alguns poemas, prolonga-se pela vida a fora, quando não se tem que, visceralmente, compor um único poema. Mas, mesmo nesses casos, a ação é válida. É, definitivamente, tudo uma questão de IMPULSO.

(Edson de França – Nov/1997)


p.s: em alguns poemas publicados note-se a expressão “poema revisitado”. Trata-se de uma certa intromissão do autor em poemas há muito escritos.

Impulso III (poema revisitado)

Claro que meus olhos,
viandantes por natureza,
tinham que parar em tuas curvas sinuantes,
mirar tuas formas cheias,
os abismos de tua passagem,
a possível moradia do ser em ti
(e os vértices moldados
por jeans provocantes),
mas,
acho que não buscava teus olhos.

(Impulso/1997)

Impulso II

Um amor em cada porto
cheiro de novidade, aventuras
Essências inebriantes
das solitárias paixões inverossímeis
transas únicas
marcantes olhares, gulas
adeuses rápidos, sem rascunhos:
até um dia, outra hora
um outro dia, um outro amor
outros sóis, outros solos, pedras
o o tesão faz, refaz caminhos
de desejo, afronta
a pequenez da estática
solidão monogâmica.

(Impulso/1997)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Impulso

Beijo na boca
do
mundo.
Pela janela do ônibus,
um segundo de muito prazer em conhecer
Sem o medo
do novo a cada parada
O transe, o trânsito,
a pressa.
o passo rápido, a face imóvel,
o olhar atento,
o beijo, a minúcia
do anúncio dentrifício
(no outdoor, todos os dentes mordem o mundo)

(Impulso/ 1997)

Janelas

Hoje nao quero proferir palavra
apenas meu olho esquerdo falará
ele tem pretensão de fechar-se
de abrir janelas
e de projetar filmes.

Nao,
nao quero palavras
nem discursos esquemáticos
aos meus pés de ouvido
deixe-me apenas o piscar de um farol humano
ou um fragmento de imagem
(instantâneos flertes descuidados)
que é tua nudez mais sensata.

(Impulso/1997)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

D'alma da noite

Uma canção sem obrigação
De dizer nada, é só
uma canção
(uma emoção enclausurada)

Até que uma taça de vinho
Trame assim
(combinando acordes, cheiros)
zil promessas de carinho.