Para a exploração ou discussão de qualquer assunto é necessária a recorrência às fontes básicas. Por vezes exaustivo, esse é o processo que constitui a base do método de contar ou reconstituir histórias.
É das fontes que o escriba extrai a
água que vai permitir captar fenômenos A luz esclarecedora que vai dar um norte
e aclarar o caminho do texto. É lá que se encontram as pérolas mundanas ou
raras em forma de informações.
Penso, para esse caso, primeiramente
nos livros, nos documentos de toda ordem, nas fotos, filmes e por aí vai.
Fontes primárias porém. De certa forma mortas e um tanto quanto empoeiradas.
Em alguns casos, contudo, é preciso
buscar, recorrer, acessar pessoas que venham a elucidar ou despejar opiniões
sobre um fato; que venham a acrescentar pontos de vista a uma apreciação ou
aclarar um episódio com suas experiências de vida e produção.
São elas a cacimba vívida, o sal e a
luz solar que vai dar vida ao texto. É imprescindível e aconselhável, sempre
que possível, ouvi-las.
Faço esse preâmbulo para saudar algumas
fontes que, com suas experiências, conhecimento e sabedoria, deram vida a
variadas produções. O mundo do jornalismo, da ciência, do cinema documental e
até da ficção, devem parte de seu brilho a fontes vivas.
Seja pontuando assuntos, sejam
como personagens centrais da narrativa, são elas o extrato mais rico da cultura
e o insumo mais precioso da produção do conhecimento veiculado pelas mídias.
Para o jornalismo corriqueiro temos as
fontes oficiais, os mandantes da vez, os queridinhos de áreas fins, o discurso
competente. Usando uma palavra da moda os “influencers genéricos” de toda
ordem. Para determinados temas específicos, porém, é preciso ir mais longe. É
preciso valorizar a voz, a inteligência e os arquivos encarnados, com suas
vivências, experiência, sua ternura e criticidade. Até mesmo a rabujice e a
aspereza dos entrevistados pode ser bem vinda.
Cada vez que algum pesquisador,
veterano ou neófito, se aventurava no campo da poesia popular - suas formas,
estilos, modos de produção, aspectos históricos - o nome de Manoel Monteiro era
pautado. A enciclopédia viva da produção poética popular estava sempre ali,
meio carrancudo, a receber pessoas e sanar suas sedes de conhecimento com
curiosidades e, vez por outra, um insight novo sobre o assunto.
Nas areias de Cabo Branco ficaram
marcados os passos do velho senhor que ali habitava. Parentes próximos eram
funcionários da casa e tive o prazer de entrar nas dependências antes que ela
se tornasse Fundação. Por diversas vezes soube de grupos de estudantes
secundaristas que visitavam a casa para colher depoimentos. Conta a história
que, de seu retiro, José Américo era uma referência para políticos que o
visitavam frequentemente. O cineasta Vladimir Carvalho registrou os passos do
Homem de Areia, dimensionando-o também como uma importantíssima fonte
histórica.
Pincei de memória essas duas figuras
para exemplificar a força da fonte que, como frisei no princípio, são como
bebedouros onde se busca saciar a sede que nasce com a curiosidade do saber.
Penso entrementes o valor de um Ariano Suassuna para as coisas da
cultura popular nordestina, de um Câmara Cascudo para o folclore, de um Zuza
Homem de Melo para a entremeios e redondezas da Música Popular Brasileira.
Fontes que, apesar das páginas escritas, se foram deixando este vazio que só
seria preenchido com suas vozes e observações iluminando veredas e abrindo
caminhos para novas análises e pontos de vista.
por Edson de França (Jornalista, Poeta
e Cronista)
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