sábado, 31 de março de 2007

Até tu, Sobel !

Escândalo no reino dos éticos. Quem não conhece Henry Sobel, o rabino? Aquela personalidade carimbada dos debates, mensagens de fim de ano, natal e quetais, que desfila ao lado de líderes religiosos brasileiros, representando a religião judaica, quando trata-se de questões relativas aos eternos conflitos mundiais. Bem vindo, agora, ao conhecimento de um outro personagem: Henry Sobel, o ladino. Quem o viu incontáveis vezes falando em paz, ética na política e na sociedade, sempre como um discurso competente na causa, jamais imaginaria que ele um dia fosse acusado de roubo. E furto, pasmem, de gravatas. Como conviria a um personagem tão exposto, não uma gravata qualquer. Tinha que ser, no mínimo, Louis Vuittom. Que beleza, não! No momento em que o mundo inteiro – o latifúndio auriverde, principalmente – passa por uma crise ética fenomenal, o rabino acha de contribuir com sua parte para a fogueira da decadência. Depois dessa, provavelmente, perderemos a presença do rabino, discorrendo em rede nacional sobre as questões éticas, a civilidade e a paz. Coisas de um mundo cão.
Louco II

Temos loucos de todas os gêneros e degenerências. Loucos por música, futebol, sexo, computadores, internet, orkut, msn e por ai vai. Louquinhos de 5ª, presos a maniazinhas limitadas, consumistas. Não percamos tempo com eles. Defendamos - e defendamos mesmo - em alto, bom som e, sobretudo, caretas e eloquências, como todo louco que preza sua descendência. Prezemos o "ar blasé" dos loucos de verdade, os maluquetes de estirpe nobre. Aqueles que perambulam pelas ruas ignorando a patuléia ignara que se "acha". Aquela que vive presa à razão de uma existência ligeiramente vaga. Essa última, por incível que apareça, mantém, brega-elegantemente, também um ar de indiferença frente ao mundo que os cerca. Mas, ao contrário da dos loucos, essa indiferença de boutique é revestida de empáfia, orgulho, desprezo, nojo, medo, certeza da salvação eterna, desfarçatez e outras coisitas bem menos publicáveis.

Torquato ponto com (poema)

Quando minha alma tresloucada
ao nada vir se juntar
não desperdicem palavras
quero um epitáfio de olhares e silêncios

se uma inevitável pérola liquefeita
insistir em rolar em teu rosto
não a detenha mas, por favor,
não a multiplique

De toda a liberdade serei redimido
Que meus amigos me construam um túmulo sereno
Mas não desperdicem palavras
em sua essência

Quero um epitáfio simples
silêncios, olhares, uma alegria serena,
Porque em síntese, na vida
fui um menino de nada poucas palavras.

(Edson de França)
Louco!

Analine, 2 aninhos, minha sobrinha mais por aderência e afinidade que parentesco, me chama de louco. Em sua linguagem inocente, gira o dedinho gordo em volta da orelha para setenciar sua conclusão. Nataly, 2o e poucos anos, minha aluna do 3º período do Curso de Jornalismo, concorda inteiramente com Analine. Flagrei-a às minhas costas repetindo o gesto analinesco e mundialmente conhecido. Sentença: esse professor é louco.Nunca recebi de tão bom grado uma deferência. Os loucos herdarão a terra. E, mesmo não brigando pelo espólio desse latifundio, quero prezar a loucura. Dos loucos de pedra e a minha própria. E explico porque. Loucos apresentam um indiferença inata por tudo que diz respeito às futilidades humanas, da terra e das convenções. Um ar meio blasé. Uma coisa assim como um boi manso, ruminando, olha para uma garça que alça sua alvíssima figura num vôo elegante, ou para um seu par andante e cagante por natureza. Coisa de louco. E não faz isso por mal, com uma intencionalidade. Faz por que não vê graça nenhuma em cultivar certas leseirices da vida mundana e mesquinha.