sábado, 26 de novembro de 2011

Pseudos-magos

Pobres de nós. Nós, pobres mortais, sem poderes mágicos, sextos sentidos ou pendores para os meandros exotéricos e esótericos. Nós que temos que conviver com a leva de magos, alternativos e pitonisas, que logram saber tudo sobre os baratos orientais, ocidentais, indígenas, negros, aborígenes e toda gama de conhecimentos mágicos, adivinhatórios, em contato superior com o divino.

Xamãs de toda ordem nos esperam em cada esquina, sem saber, muitas vezes, que andam na contramão de um tempo louco. Acham-se doutorados, escolados e permanentemente antenados com poderes capazes de esmiuçar a região aurática das pessoas em mínimos segundos. E o que é pior. Capazes de condensá-las em poucas, vazias e, principalmente, equivocadas palavras. Pobres de nós que, desavisadamente, acabamos sendo pacientes-alvo das imprecações dessas criaturas.

Convenhamos que, a princípio, não pode haver mal algum, em escutar uma pessoa ponderada, cujo esforço em entender o ser humano os leva a ter cuidados especiais, tanto no estudo quanto nas palavras que emprega. Sempre deixando margem para que o consulente entenda a maleabilidade dos seus conceitos que não podem, sob hipótese alguma, ser definitivos.

O mal é quando não nota-se nenhum traço de humildade nos chatos magos, nem muito menos um bom conhecimento da arte que eles acreditam dominar e, para o ridículo extremo, fazem questão de tornar público. Falta-lhes a noção de falibilidade.

A princípio recomendaria aos oráculos da nova era uma ida urgente aos dicionários - do velho Aurélio aos específicos de mitologia e magia - para afiar um pouco o cabedal de seus presságios.

Para ser só um pouquinho radical, os mandaria à paz e a sapiência que os proporcionaria, certamente, a leitura de um clássico da nossa filosofia. Ou até a um maciço, desde que verdadeiro, tratado de magia. Mas, infelizmente, como a preguiça mental aflige a grande maioria dos neo-bruxos, eles contentam-se com alguns opúsculos vendidos em qualquer banca de jornal. E, sei que eles não tem tempo suficiente para deleitar-se com qualquer leitura séria, muito mais fácil digerir qualquer indício de conhecimento e sair por aí enchendo a paciência das pessoas, dando novos nomes aos deuses e misturando panteísmo com parasitismo, sem nenhum constrangimento.

Eles vêm, é bem verdade, ao encontro dos anseios de uma gente desesperada que tenta agarrar-se a qualquer palavra que os conforte, dê alguma luz, os encaminhe aos caminhos da realização pessoal, espiritual prática e, principalmente, material, já que ninguém é de ferro.

As condições de sobrevivência e competição no mundo atual fragilizou as pessoas. Se os tempos são de incerteza, os homens são de vidro. Tão vítreos, quebráveis e transparentes que constituem-se num campo vasto para a imersão dos magos. Mas, que eles não se enganem, os seres não são tão cristalinos, a ponto de poderem ter desvendados todos os seus mistérios, com olhares e intuições superficiais, baseados em suposições do senso comum mais ralé.

Se é verdade que existem mais mistérios entre o céu e a terra do que possa supor nossa vã filosofia, concordemos que o homem está em meio a um turbilhão de influências energéticas. Portanto não pode ser presumido nem elucidado, em sua complexidade, por um mago de última hora, munido de toques relâmpagos retirados de leituras superficiais.

Os pseudo-magos da era da informática não ajudam a convivência. Não elevam o nível espiritual do planeta. Melhor, com seu estilo fantasioso, podem muito mais gerar distanciamento e desunião entre as pessoas. Num estágio mais avançado e pernicioso a apatia, a falsa esperança e a alienação. Imediatamente, a chatice e a intromissão, sem ser requisitada, no sagrado direito do ser, por si só, conhecer-se e traçar seu caminho, sem querer ter nenhuma idéia preconcebida - saída da pressuposição de terceiros, o que (cá prá nós!) beira a praga - sobre seu futuro.

Edson de França, Jornalista - João Pessoa/PB

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