sábado, 26 de novembro de 2011

Bem


Diga-me sem pensar muito: quantas pessoas você, amigo leitor, conhece a quem poderia, sem ressalvas, dar um titulo de "boa gente". Gente boa, de verdade. Imagino-o agora contando nos dedos apreensivo para ver se entre os seus chegados existe um componente dessa espécie em acelerado processo de extinção. Daqui, do meu posto, já dou a pena capital: dificilmente (senão impossivelmente) encontrarás representantes legítimos dessa ave rara.

Terás, entre teus conhecidos, um ou outro Don Quixote desgarrado da esfacelada legião do bem, mas o grosso das pessoas que você conhece simplesmente não passariam no mais ridículo teste de bondade. Muitas delas, mesmo travestidas de representantes das hordas do senhor, não passam de insignes covardes que, habilmente, utilizam-se da fantasia eclesial para ludibriar os incautos com o seu potencial angelical, enquanto morrem de medo do clamor divino e promovem um inferninho particular na vida dos semelhantes. Tudo, claro, sob a capa protetora do discurso atribuído a Deus e ensaiado à exaustão nos salões dominicais.

Convenhamos que o bem não é tarefa fácil de ser exercida ou praticada. O receio das pessoas em promovê-lo parte, sobretudo, da demarcação de espaços; instituição por demais arraigada nesses nossos tempos. Quinhões esses motivados pela guerra da sobrevivência que, forçosamente, leva o indivíduo a cercar-se de cuidados especiais. Em primeiro plano, ser amante em tempo integral da infalibilidade e da competência pessoal. Do que faz questão, por dever de ofício ascensional, de fazer propaganda e promover ações de marketing; na maior parte das vezes sobrepondo-se, ou melhor, achincalhando a quem, em seu duvidoso senso de apreciação, não dispõe das qualidades por si apreciadas.

Ao mesmo tempo, alimentar o medo terrível de ser confundido, em seu intuito rumo ao bem, com as artes da ingenuidade e da fraqueza, quando não a vir ostentar o singelo rótulo de "besta", o que não condiz com o perfil exigido para os "homens" do presente. Lembre-se, estimado leitor, que no reino dos fortes não existe lugar para o bem, e também não é exatamente algo que vá se aprender em algum lugar. O bem é muito apreciado, admirado e usufruído, mas muito difícil de ser cultivado e exercido. Exige desprendimento, exercício constante de tolerância ou, numa palavra, ser intrinsecamente bom.

Se o indivíduo não traz em si, naturalmente, esse gene "defeituoso" - já que a regra geral é oprimí-lo sob as regras do canibalismo social - que impele compulsivamente o ser humano a cometer atos benéficos à cidadania, aos bons costumes, ao cultivo das regras de convivência mais básicas e, sobretudo, ao respeito extremado à vida e ao semelhante não há (ou não existe ainda) instituição reformadora (sejam escolas, quartéis ou igrejas) que possam desenvolvê-lo. E essa é uma obra ainda a se fazer, caro leitor.

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