Não
sei em que escola de jornalismo eles se formaram. Imagino apenas que, a rigor,
não passaram por escola alguma e somam, para o exercício do oficio, algum
conhecimento técnico da comunicação “interpessoal” mediatizada, desconhecimento
geral das minudências relativas ao ser humano e sua organização
histórico-social e, ademais, uma militância política unicamente movida por
interesses pessoais e, na maioria das vezes, com uma leve essência de
estelionato midiático.
Tracei,
grosseiramente, um retrato dantesco do espécime que mais prolifera em nosso
jornalismo atualmente. Em alguns meios, sobretudo super populares como o rádio, são eles que nivelam
por baixo a qualidade das emissões. Com seu comportamento, a um tempo intencional
e oportunista, contribuem para a desinformação geral e, sobretudo, para a
formação de opiniões gerais, necessariamente descontextualizadas, retrógadas,
conservadoras e de baixa análise sócio-estrutural e de conjuntura.
Na real,
creio que eles sempre existiram, afinal, na história da comunicação e do
jornalismo especificamente, quem tem um olho “crítico” e uma voz altissonante
sempre se passou por aglutinador dos interesses maiores da maioria sem voz. Uma
subespécie de paladinos da “razão” pública. Em alguns momentos, seja ocupando o
centro das atenções, seja escapando entre os guetos infectos da desimportância,
os “comunicadores” de voz possante e ideias enviesadas sempre estiveram
presentes na cena social.
O
jornalismo contemporâneo, do impresso ao televisivo, foi concebido para ser produzido
por grupos empresariais que pudessem manter, minimamente, equipes altamente
especializadas, dedicadas à composição do produto noticia. Equipes que
entendessem o produto em todas as suas nuanças: técnica, ética, estética e
comercial. E, também, pelo significado e importância político-social de sua
emissão.
Criou-se,
em torno da notícia, um campo intelectual amplo que discutia da captação e da
formatação ao plano gerencial e aos limites da penetração social dos conteúdos.
Essa é uma função político-empresarial com certeza, pois liga as estratégias do
negócio comunicação às bases de negociação e influencia que a noticia pode
adquirir. Vem dessa base estruturada, especializada, sutilmente política e
politizante, a expressão do jornalismo como um quarto poder.
Um quarto poder exercido não pelo grito
banal, mas pela coerência dos argumentos, pela seriedade na apuração, pela
coragem de abrir caixas-pretas e desafiar os autoritarismos de toda ordem, pela
análise diuturna e balizada da conjuntura política, da noção exata dos danos
irreparáveis de uma emissão irresponsável. Talvez seja este rosário uma quimera
e apareça um dedo pronto a apontar a irrealidade dessas premissas e a afirmar
que a comunicação pública sempre foi e será um lamaçal pronto a expirar
perdigotos por todos os lados e contaminar o tecido social.
Talvez,
o impacto das “notícias-mentira”, sobrepujem os idealismos, acostumem corações
e mentes ao conformismo das palavras esvaziadas de sentidos mais profundos e
enterrem de vez a ideia de um jornalismo mais sério e comprometido com a
emancipação do homem e da coletividade. É esse, enfim, o caminho que tomamos
com a falência da organização da produção jornalística, o individualismo laboral
dos âncoras histriônicos das rádios e tvs populares e, finalmente, com a infestação
do pior da “política” no editorial vigente.
Limitada,
interesseira, controversa, hedionda, alarmista são apenas alguns dos adjetivos
que se pode colar, qual decalque na produção jornalística de maior ibope no
atual momento. É ela, profusa, atabalhoada, porém, precisamente, que orienta os
comportamentos mais torpes por parte dos profissionais e promove lacunas
contextuais nos conteúdos disseminados por aí. Melhor, contribui para criar
maiores contingentes de gente desinformada e, pior, conformada e remotamente
guiada.
por Edson de França
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