Convenhamos,
caríssimos companheiros do front jornalístico, que nosso dia a dia é ponteado
por pautas, motivos e situações intocáveis. Inalcançáveis, até. Isso devido,
com certeza, ao nosso limitado domínio das artes de perscrutar, ao moderado
estilo de inquirir, aos nossos meios operacionais e acessos disponíveis e, é claro,
às temíveis conjunturas politicas, dadas a conveniências várias e censuras
particulares.
Quem está na arena, seja
como mero registrador de eventos ou agente inteligente e provocador, seja como
mero espectador ou analista privilegiado da mídia, tem que direcionar o
periscópio e magnetizar as antenas da crítica para perceber-se, também, dentro dessa
condição paralisante do bom exercício da informação clara e precisa.
Há
situações e temas espinhosos, caixas-pretas que não podemos abrir, solos de mansardas
e palacetes que queimam nossos pés, truculência e maneirismos de figuras de
proa do cenário político, econômico e até da militância dita social. Além, é
claro, das tesouras que limitam nossas asas e da subversão da mente que
contribui com nossa idiotização. Primeiro individual, depois, a partir da
propagação do nosso trabalho, coletiva e contagiosa.
Dificilmente, alguma pauta
de real e grandioso interesse coletivo ganha as cores e a profundidade ideais
para parâmetros básicos de informação que sirvam como ganho real no nível de
conhecimento do público.
Discordo do profeta Raul
quando insinuava ser o jornal um monte de mentiras. Mas isso é apenas a defesa
apaixonada do trabalho de inúmeros colegas que ralam incansavelmente para
produzir jornalismo.
Por outro lado, não posso
negligenciar a alfinetada sagaz do maluco
beleza. O jornalismo pode não ser um calhamaço de mentiras, mas não passa
de um produto enlatado para consumo. Pense em enlatado como veneno para saúde,
para o corpo ou para a mente conforme o caso.
O enlatado, geralmente,
promete gostosuras, praticidade, com garantias de essência imaculada. O
jornalismo promete verdade, imparcialidade, objetividade e, mais recentemente,
imediatismo.
Do enlatado, suprimem-se
(quando se adicionam os conservantes) a essência vital dos alimentos
aprisionados. Por extensão, caem os sabores naturais (por vezes, substituídos
por artificialismos). É preciso garantir vida longa ao produto como forma de
garantir muitos dias de vida na prateleira dos peg-pagues do mundo.
No jornalismo, o caminho da
fonte ao leitor, expectador ou ouvinte é floresta de lobos vorazes e
maquiavélicos.
As matérias de transito
fácil, que envolvem interesses e narcóticos massivos, são o oba-oba da
cobertura jornalística. Abrem-se janelas, escancaram-se portas, estendem-se os
tapetes vermelhos para profissionais de ponta e pixotes amadores. Todos tem
acesso a tudo.
É a hora do oba-oba da
notícia.
O interesse é, claro,
massificar a informação para que todos saibam todos os detalhes superficiais da
ação e atendam ao chamado do berrante. Saber só, não. É preciso acreditar,
multiplicar, transferir, replicar até perder de vista.
Pergunte, por exemplo, em
nome da transparência, que se ponha luz sobre os contratos das estrelas de
festas populares. Pauta fácil para profissionais e holofotes de qualquer rincão
perdido pelos cafundós dessa república. Acho, com certo escarnio, que vão
transpor o vermelho do tapete para teu corpo amarrotado.
Quando algum golpe está em caminho,
naqueles casos em que a mídia é conivente (quando não mentora), abrem-se
escaninhos ocultos; números e estatísticas viram café da manhã, almoço e
jantar; perdas e ganhos são sopesados diariamente.
Cria-se um clima de terror
ou de derrocada anunciada. Algo assim como a invasão imaginária de homenzinhos
verdes no planeta. Nesses momentos, o ilustre inquiridor, sempre se achará um
arauto da verdade, da veracidade, da moralidade e outros ades a mais. É bom
pensar nisso.
por Edson de França
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