segunda-feira, 2 de março de 2015

Incoerências da arte política

            Na atividade política você pode encontrar de tudo um pouco. A grande maioria dos qualificativos sugerindo positividade em atos e imaginário. Ética, trabalho duro, empenho, paixão, denodo, desapego e esmerado espírito público; não necessariamente nessa ordem, nem em estado puro, nem muito menos com a aura de positividade que tais palavras possam sugerir. O que marca a política como estigmas são os totais e mais arraigados jogos de incoerência.
            A atividade política não é uma atividade digamos normal como cultivar a terra, tratar de animais, colher os frutos da terra, pregar no deserto e comer gafanhotos. Trabalho braçal e penitencias sujeitas aos humores da terra. Também não é uma arte no sentido estrito como a fala escorreita (ou língua direita, como diziam os índios americanos), a produção de textos para consumo e o deleite, a melodia das composições musicais com a flauta de pan ou a harmonização de cores na reprodução serenas marinas. Coisa de gente afeita ao onírico, à quimera e aos sentimentos impalpáveis. Nada disso.
A arte da política tem a ver com o relacionamento humano, no que ele tem de mais voraz e com o dirigismo que o poder faculta a um homem sobre outro. A arte da política tem a ver com a manipulação de vontades coletivas e com o carreamento dessas vontades na direção de um objetivo. O objetivo final é o poder de mando. Se há algo de positivo na pratica política – um projeto de sociedade mais justa, por exemplo - geralmente sendo desvirtuado e convertido em poder de mando e anulação do discurso e da vontade do outro. Politica, enfim, tem a ver com mando e submissão.
Claro que, por teoria e idealismo, podemos crer na política como sinônimo de participação social, ou seja, como vetor da construção da sociedade através da representatividade e da pressão de grupos e cidadãos. Mas essa, vamos dizer, não é a regra no mundo pratico. O mundo prático carece de figuras que dirijam e de outras que aceitem (ou sejam levados) a submissão. Em meio a tudo isso flutua o “discurso” que mantem os dois integrados, numa simbiose parasitária. Os submissos, claro, doando a seiva para a manutenção daqueles outros.
É no campo discursivo que se estabelecem as controvertidas regras do jogo. Se algum dia você quiser ser plateia isenta, sem o ardor das paixões e fora dos interesses imediatos de sua sobrevivência protocolar, creia-me, verás um dos melhores espetáculos circenses da qual a mentalidade humana é capaz de intuir.
Verás destruído o idealismo, pois desfilarão a tua frente todos os pecados que se escondem por trás da aparência asséptica da politica. Verás o retrato ignóbil de teus ídolos, a nu. Verás num instante precioso tudo o que o que há de mais baixo na condição humana representado, sob uma cortina de confetes, em figurões acima de qualquer suspeita. Bufões, rufiões, ladinos, o baronato faminto, os homens de personalidade dúbia e palavra fácil, facilmente enviesada. Afinal, o natural do animal político “profissional” é minorar todo ímpeto coletivista em nome de interesses particulares ou de grupos que o apoiem em sua escalada.


por Edson de França

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