Há
tanta gente de boa conversa procurando uma tribuna, um parlatório, uma plateia,
algum artefato ou situação que amplifique suas mensagens. Falo de gente de bem.
Gente que tem o que dizer. Gente que traz em sua fala mensagens edificantes, a
boa vontade inclusa em seus gestos e escolha das palavras. Gente que não se
deixa inflar pelo destempero. Gente que quer a conciliação, que prega a paz, a
concordância, o bem comum, o bom senso, a convivência dos contrários. Entende a
existência dos antagonistas como um item primordial da sua própria experiência
de vida.
Gente
que espera, com a paciência dos sábios, a hora de emitir comentários,
aconselhar quando possível, ser o guia informal das gentes. Gente que conhece a
aura de suas verdades. Gente que sabe do papel limitado de suas teses e de sua
própria insignificância no tear dos múltiplos fios de opinião. Gente grávida
das melhores intenções, mas que não quer influenciar demasiado nem criar
grandes atritos, muito menos para trabalhar para gerar exércitos de prosélitos.
Gente que tem plena consciência dos limites do seu canto, da extensão e da
altura de suas notas. Busca a valorização de seus minutos de protagonismo.
Para
esses muitas vezes sobra um palanquinho, uma sala de desatentos aprendizes, uma
roda boêmia num bar má afamado, uma conversa informal com um amigo de longa.
Situações simplórias, espaços exíguos. Mas, talvez, não careçam de maiores
espaços. Talvez suas mensagens, por leveza, pureza ou retidão, não sejam semente
de fácil plantio. Talvez, pela elaboração de suas verdades intrínsecas, se
tornem raras e de “difícil acesso” para mentes tão acostumadas às
superficialidades do discurso fácil de viés primitivo e controverso.
Ironias
da vida, meus prezados. Aos trogloditas sociais que nada tem a acrescentar a
convivência dos contrários, porém, os espaços parecem se abrir como comportas
de represa temperamental. Para eles, os microfones, as páginas e até os espaços
generosos da crônica servem aos propósitos nem sempre claros, por onde correm
os pecados mais aparentes de nossa crônica social: o exercício da bajulação, a
reiteração de uma pretensa descendência aristocrática e o uso da “palavra
amplificada” para auferir alguns ganhos, por vezes bem mesquinhos.
A vida,
se observada pelo proceder de suas instituições sociais, tem mesmo essa
formatação: competitiva, desigual em todos aspectos e eivada de generosas doses
de DNA jurássico. A sobrevivência no meio tem que ser construída a base de
dentadas, azunhadas e, sempre que possível, a berros que sirvam de alerta e
intimidação ao outro. Comportamentos que destoem dessa pauta hegemônica estarão
irremediavelmente fadados à limitação do acesso aos meios de propagação da fala
e, em casos extremos, até a própria elaboração de pensamentos.
por Edson de França
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