Pela vida desfilam os que são
escolhidos e aqueloutros que se escalam. Nos momentos que antecedem a
composição final dos times, esses últimos se apresentam escandalosamente. Não que haja
algo de mal nesse comportamento, num primeiro instante.
O problema surge quando os
ditos cujos, os entrões, sem que ninguém lhes peça credenciais, começam a
enumerar características pessoais, virtudes, dons e o que mais lhes parecer
item de enriquecimento de currículo e, consequentemente. Um troço, numa
palavra, chato como os portadores dessa anomalia social.
No começo de composição de uma novela, o
escritor expõe sua ideia e revela o desejo de se inspirar nas pessoas do
convívio para compor os personagens. O entrão antecipa-se. Vai revelando o que
intui ser e representar sua persona, desde o lado profissional até os naipes
mais elogiosos de sua personalidade.
Há o intuito de sugestionar
o autor e aparecer bem em tela além, claro, de derrubar um monte de gente pelo
caminho.
O escritor escuta tudo com a paciência dos
yogues indianos, como se não estivesse ali. O entrão é como mosca na ferida de
cavalo magro – pensa. “Chateia, leva tapão, mas não larga a chaga” – rumina.
- Pensei, de fato pensei em
um personagem para você! Acho que você se encaixa perfeitamente!
Os olhos do candidato
brilham.
- Poderia descrevê-lo,
atiça. Espero que se guie pelas características que lhe enumerei, elas me
representam. Siga exatamente as minhas sugestões.
- Claríssimo. Pensei em algo
básico como a gramínea daninha que cresce nas charnecas, onde pastam os cavalos
magros e os besouros rola-bosta.
por
Edson de França
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