Não lembro onde li nem de
que boca saiu uma expressão melancólica que proclamava: “O Brasil matou Elis
Regina”.
Confesso que na época não
tinha sensibilidade, conhecimento ou vivencia suficientes para decifrar o
conteúdo da frase.
Era só capaz de pressentir
que para além da lamentável morte física da artista, do sumiço repentino e
inesperado, do silencio da voz da estrela, a frase mirava um território do
indizível naquele momento.
Apontava para seara do
intraduzível. Do um véu densamente condensado em campos psíquicos, vivenciais,
de mentalidades e comportamentais. Só eles capazes de justificar e explicar o
desabafo.
Morava no campo do
sentimento mais profundo de brasilidade e das questões histórico-sociais, da
imperiosidade das estruturas que nos molda, condiciona e condena.
Nos últimos dias, enquanto
vigiava pela fresta a àgora anárquica da rede social, fui surpreendido, de novo,
pela expressão, mais uma vez utilizada a guisa de homenagem à personalidade
nacional recentemente desaparecida.
Havia desta vez também, como
no outro caso, um quê de resignação, mas também um tom raivoso, pulsante. “O
Brasil matou Paulo Henrique Amorim”, declarou o internauta.
Logo em seguida debulhou uma
série de condições objetivas que, reunidas, acabariam decretando a morte, o
silêncio providencial, de quem cultiva, sobretudo exercita, a capacidade de
indignação neste país.
Tomar posição é andar em
área de risco. Ter esperança é deparar-se todo o tempo com a frustração. Andar
irmanado com o pais dos despossuídos e sofrer a rejeição do brasil oficial.
Agir em prol da verdade artística, prezar pela mínima honestidade nos
procedimentos sociais é sofrer, dar murros em ponta de faca
O brasil mata, naniza,
ignora as capacidades, promove o esquecimento dos bons pervertendo a memoria. Assim
construímos nossa historia oficial. O medíocre por aqui tem vez, brilha, mita.
Em tempo: A corte palaciana ora no poder ignora a morte de João Gilberto e se
nega a decretar luto oficial. Mas de que falávamos mesmo?
Depois não me venham falar em
salvar as tais “glórias nacionais”
por
Edson de França
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