quinta-feira, 11 de julho de 2019

O brasil mata...


Não lembro onde li nem de que boca saiu uma expressão melancólica que proclamava: “O Brasil matou Elis Regina”.
Confesso que na época não tinha sensibilidade, conhecimento ou vivencia suficientes para decifrar o conteúdo da frase.
Era só capaz de pressentir que para além da lamentável morte física da artista, do sumiço repentino e inesperado, do silencio da voz da estrela, a frase mirava um território do indizível naquele momento.
Apontava para seara do intraduzível. Do um véu densamente condensado em campos psíquicos, vivenciais, de mentalidades e comportamentais. Só eles capazes de justificar e explicar o desabafo.
Morava no campo do sentimento mais profundo de brasilidade e das questões histórico-sociais, da imperiosidade das estruturas que nos molda, condiciona e condena.
Nos últimos dias, enquanto vigiava pela fresta a àgora anárquica da rede social, fui surpreendido, de novo, pela expressão, mais uma vez utilizada a guisa de homenagem à personalidade nacional recentemente desaparecida.
Havia desta vez também, como no outro caso, um quê de resignação, mas também um tom raivoso, pulsante. “O Brasil matou Paulo Henrique Amorim”, declarou o internauta.
Logo em seguida debulhou uma série de condições objetivas que, reunidas, acabariam decretando a morte, o silêncio providencial, de quem cultiva, sobretudo exercita, a capacidade de indignação neste país.
Tomar posição é andar em área de risco. Ter esperança é deparar-se todo o tempo com a frustração. Andar irmanado com o pais dos despossuídos e sofrer a rejeição do brasil oficial. Agir em prol da verdade artística, prezar pela mínima honestidade nos procedimentos sociais é sofrer, dar murros em ponta de faca
O brasil mata, naniza, ignora as capacidades, promove o esquecimento dos bons pervertendo a memoria. Assim construímos nossa historia oficial. O medíocre por aqui tem vez, brilha, mita. Em tempo: A corte palaciana ora no poder ignora a morte de João Gilberto e se nega a decretar luto oficial. Mas de que falávamos mesmo?
Depois não me venham falar em salvar as tais “glórias nacionais”

por Edson de França

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