Assistimos futebol porque mesmo?
Alguns dirão por paixão a um escudo, outros para sentir o calor da disputa e a
emoção do gol, outrissimos ainda dirão pra passar o tempo e por aí vai. Por mim
assisto futebol por gostar de futebol. Nesse caso me irmano com um amigo de
Campina Grande, prof. Aguiar, que me confessava até futebol de moleques em
campo de poeira o atraia. Digo o mesmo.
Durante muito tempo meu passatempo de
fim de semana era acompanhar partidas do campeonato de bairros no campo do
Jardim Planalto onde nasci. Isso, muitos anos depois de desfilar minha perebice
futebolística nos campinhos de terra e nas peladas noturnas na Rua Patrulheiro
Gilvandro Seixas, rua que atravessava a que nasci, em tempos de criancice e
travinhas improvisadas.
Não sou espectador de fórmula I,
esporte esnobe por Dna e excelência. Muito menos do tênis, com sua nobreza
quase real; cenários impecáveis, clássicos, tersos, sem sinal das sujices. O
futebol, apesar do glamour que exalado em competições series A ou torneios
transnacionais, é praticado em cenários muito menos nobres, em alguns casos até
insalubres. O espirito, contudo, mantém-se intacto.
Vejo no esporte futebol uma plástica,
uma obra em permanente construção. Contudo com um tempo limitado para ser
concluída. Mesmo nas peladas tipo 2 gols vira de campo ou no rodízio de peladas
a racionalidade temporal impera. Contudo no tempo de duração de uma peleja, há
um tempo outro: o do próprio desenvolvimento do jogo. Quadro composto em pinceladas
tão rápidas que o olho não pode dormir.
Num piscar passou o tempo, foi-se a
jogada. O momento iluminado passa, é efêmero. Uma vez acontecido o momento
magistral não há repeteco. Restarão as imagens de Tv para lançar para a
posteridade o feito. Já desbotadas, um dia, já no ocaso dos ídolos, elas
servirão para um compositor atilado compor uma nova Balada N° 07. Toda essa
magia não se faz sem a presença do artista principal: o craque.
O cara que compõe uma sinfonia em
campo, destacando as notas como quem executa trechos em pizzicato. Toca em
grupo, mas permite-se solar, viver sua própria epifania em contraponto aos
demais componentes da obra. Sem tanta virtuosidade, digamos.
O craque é o cara que consegue por
ordem no caos. Nada mais terrível de se testemunhar as estrepolias de uma bola
tocada por pés inábeis. Nessas situações a bola que é doida por vida,
enlouquece de vez, torna-se indomável. Parece e, na verdade, se diverte criando
malabarismos só pra rir de quem não tem habilidades para dominá-la.
por Edson de França
Nenhum comentário:
Postar um comentário