Esbarramos com
eles todos os dias. Não há a principio uma descrição universal que os
identifique. Cada um tem particularidades físicas definidas. Os meus, feito Proteus,
me aparecem de todos os jeitos (e defeitos), portando sempre adereços que facilitam,
de longe, sua identificação.
Se acaso
(utilizando todo breu e sadismo do meu humor) descrevesse os atributos físicos,
pantomímicos e enumerasse os acessórios indispensáveis da composição das
personas, certamente todos identificariam num estalo de quem falo. Tornaria-os transparentes e, seus chistes, muito cristalinos. Talvez, por isso, fosse acusado de comportamento antiético. Porém nada me impede de descrever, caricaturamente, aquele
que parece ser o estado de espirito que eles destilam por aí. Melhor até, a patética
composição humana, psíquica e existencial do espécime.
Velhacos e calhordas. Cada um
deles, independente da idade, zelam pouco pela integridade. São, naturalmente,
dados a expedientes pouco honestos. Parecem sempre estar montando algum ardil
para se dar bem. Criam situações, envolvem terceiros em seus planejamentos e,
de preferencia, tem um radar atento para flagrar incautos e enredá-los em sua
malha de trevas. Na maioria das vezes, porém, usam uma entidade divina para
justificar seus atos. Vendem iluminação.
Na realidade, ao que me consta,
eles são dotados de dois neurônios apenas. Unidades que não executam o processo
natural de sinapses. Não se articulam para formar um todo coerente. Cada um
deles age por si, independentemente da vontade o outro.
Um, vesgamente, avalia o mundo e
captura-o, com todas as deturpações possíveis, para servir de lastro à
formatação dos pontos de vista com que tenta ser a palmatória do mundo. Deles partem
as análises mais engenhosas e críticas mais ferinas, centrados na mais pura má
fé e os projetos mais grandiosos, com um potencial de ilusão imenso.
O outro, objetivo
e capcioso, não oferece ao portador espécie nenhuma de auto-crítica ao seu parasitismo
endêmico. Enxergam na vida uma materialidade só. Um queijo atirado às ratazanas,
onde a elasticidade do estômago e o tamanho da dentuça estabelecem as regras da
convivência.
Agem por todos
os períodos do ano. São epidêmicos em todos os quadrantes. Mas, quando os períodos
eleitorais se aproximam, os seres bi-neuroniais sentem sua atividade cerebral
atingir a excitação máxima. Se olhares em volta, devem ter alguns acampados
perto de tua casa.
por Edson de França
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