Com o tema comporia um fado.
Imprimiria tristeza na melodia, na armadura musical, no acompanhamento e na
interpretação. Na letra, exortaria meus fantasmas em reclamações pelos amores
perdidos, pelas nostalgias da casa da infância mãe e, como tema incidental, enxertaria
trechos de minha pequena visão de vida e a impossibilidade de pôr-me em lugar
dos que atingi com meus desatinos. Estaria composto, então, o fado
dos reclamões, uma elegia festiva aos comportamentos mesquinhos e aos comentários
desabridos e impensados.
Com
certeza me perguntariam o porquê do fado. Respondo que não caberia, para o
caso, a entoação de um frevo, uma bossa ou um mágico samba. Creio que não e
exponho minhas razões.
O
frevo dá alegria nas pernas, reclamões são parasitas por excelência; a bossa é
muito sofisticada e contida para ser subutilizada como ícone para lamentos
muitas vezes estridentes e monocórdicos como a cantiga da perua (de pió a pió); o samba conduz alegria e tristeza
abraçadas num mesmo guarda sol musical. Os reclamões, enfim, não são alegres,
nem tristes, nem poetas, nem proativos, nem utopistas, nem arautos da esperança.
São só reclamões por natureza e oficio, nada mais.
Acompanho com muita atenção os comportamentos (os meus,
então, bem de perto; por dentro e cercanias, inclusive) e os comentários que o
ser humano é capaz de engendrar inconscientemente, isto é, sem pesar a extensão
de seus comentários, nem a autocrítica necessária ao processo de emissão de
opiniões. E, muitíssimo menos, o conhecimento histórico que facultaria
profundidade às análises conjunturais. E, afinal, o que eles entenderiam por
conjuntura?
As
redes sociais permitiram a generalização do exercício da opinião. Há algum
tempo, a opinião dos famosos é a média do nível da mentalidade nacional, pela exploração
exagerada dos canais por parte das celebridades de plantão. Hoje, ela se tornou a ágora dos anônimos e
instalou-se, de vez, a balbúrdia. Nos grupos profissionais, associativos e
comunitários, nos comentários destilados em perfis pessoais e nos blogs vai se
compondo o perfil atual dos opinantes e, por ironia, vão se expondo as bases da
emissão de opiniões.
Infelizmente,
conheço de perto um monte de gente que utiliza as redes sociais para destilarem
seus sofríveis pontos de vista. Infelizmente, porque, conhecendo-os, posso
aquilatar por que processos eles construíram o nível mental que andam por aí
usando. Infelizmente, por que o pensamento exposto não reflete um arcabouço articulado
de ideias. Apenas um mix
de ideias arrevesadas, fruto de algum interesse frustrado ou decadência de algum
título nobiliárquico, que eles vão destilando feito as prédicas de um velho e
seboso catecismo.
por Edson
de França
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