No episódio fatídico da
malograda Copa do Mundo de 2014, assistimos a um impressionante comportamento
remissivo e bem "a nossa cara". A lesa contagem regressiva para a almejada conquista
do hexacampeonato mundial. Eram sete os passos que nosso treinador fazia questão
de lembrar, a todo instante. Era o prólogo de cada partida. O ensaio tatibitate
do êxtase, materializado num galope cabalístico.
O ato (ou a bravata, como
queiram) era uma espécie de referência honrosa à moda criada por Mario Lobo
Zagalo, durante a campanha do tetra, em 1994 (Diga-se de passagem, a conquista
mais insossa de que se tem noticia na história dos mundiais. Tanto que acredito
que ali os deuses vagabundos do futebol, desocupados que só eles, ali puseram
as mãos e jogaram os búzios).
Nosso treinador embarcou
na mesma onda e passou a destilar um mantra – uma forma de patuá vocálico -
para atrair bons fluidos, creio. Eram os sete passos para a conquista, mas os
deuses também vingativos do futebol injetaram câimbras nas canetas da
“poderosa” equipe ali por volta do quinto, quando, para não fugir do cabalismo,
sofremos uma derrota acachapante por gloriosos sete a um.
A referência aberta aos
dotes advinhatórios e cabalísticos do “Velho Lobo” nos remete, sem escalas, a
um dos nossos maiores problemas. Deixamos de lado muitas vezes a seriedade, a
análise prática das coisas objetivas, e caímos no mundo das fabulações, como se
toda conquista fosse dom divino e se sustentasse a base de forças extra-humanas
ou do acaso das meizinhas, dos feitiços caseiros, das crendices e das superstições.
Nossos boleiros de bancada,
por sua vez, recorrem ao baú dos tabus para vender a ilusão de vitória, como se
isso valesse como passaporte fiel para atingir objetivos. Daí, a forma
escolhida para antecipar um resultado satisfatório é ir ao baú da história para
enumerar coincidências. Tomamos com esse comportamento muito gols. Um daqueles
sete ao menos pode ser creditado nessa conta aí.
Foram sete gols. Rápidos,
certeiros, mortais. Foram sete gols e a Seleção brasileira amargou o malogro do
sonho do hexa campeonato. Foram sete gols construídos de forma até simples. Uma
engenharia eficiente como um elevador da Thissen Krupp ou da Atlas Shindler.
Perdemos para uma seleção
tida e alardeada como mecânica. “Os alemães tem cintura dura. Prá cima deles,
fulaninho dos anzóis”, bradava um de nossos “queridíssimos” locutores esportivos.
Saibas, porém, Macunaíma, que a mecânica casa-se integralmente com a tecnologia
e esta, diretamente, com os conceitos qualificativos de eficiência e eficácia.
As peças dos Mercedes Benz
ou dos Audis da vida, ao que me consta, não são feitos de geléia e, mesmo
assim, quando postas em movimento, agem como equipe. A deficiência motriz de
uma peça é sempre compensada ou complementada por outra. Ao final, a máquina
mostra sua forma ágil, dinâmica, efetiva, vitoriosa. A máquina que queríamos
ter, seja como protótipo de nossa eficiência, seja como seleção, né não?
Se o futebol ou aquele
episódio em especial serve-nos de lição, que se fixe apenas uma. Somos uma
gente dada fé e, através dela, tentamos superar nossa falta de empenho nos
estudos, na pesquisa, no planejamento, na construção do conhecimento, na
confecção das estratégias e na antecipação dos fatos. Fazemos muito esforço, é
inegável. Mas largamos tudo, num piscar de olhos, ao sabor das improbabilidades
dos acasos felizes. Somos assim no futebol, na politica e em vários outros
quadrantes da vida mundana. Infelizmente.
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