sexta-feira, 24 de abril de 2015

Maturidade intelectual (para a formação das opiniões)

            A história de um povo se faz pelo investimento nas formações individuais que, ao longo de um processo de compartilhamento de ideias e participação social, acabam por se materializar em decisões coletivas que influem nos comportamentos e nas realizações.
            A educação, a civilidade, o respeito, a honestidade, a lisura e até a capacidade autônoma de decidir e influir nas questões polêmicas da vida social, como a violência, por exemplo, demandam diretamente dessa equação.
            Creio não ser difícil intuir que a referência ao “amadurecimento individual” guarda uma relação direta com os processos educativos de transmissão, aprendizado e, sobretudo, construção do conhecimento.
É nesse território que os reiterativos, e para alguns maçantes, clamores teóricos e práticos em torno da essencialidade da educação como vetor de desenvolvimento do indivíduo e da sociedade (capitaneadas, em nosso meio, por pessoas como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e Cristóvão Buarque) ganha expressão.
Infelizmente, relegada a um plano secundário por governos e, muitas vezes, levada a reboque até por agentes diretos do processo, a educação entre nós continua sendo um problema estrutural e, sobretudo, um item mal compreendido e parcamente assumido por grande parte da população.
Educação em si não é só dominar os territórios do letramento, da leitura básica, da formatação e difusão de opiniões. Perpassa esses estágios, mas deve ser compreendida como conjunto, uma parte sendo indissociável da outra, um composto que nos capacitaria, individual e coletivamente, como entes autônomos de decisões, influência e autonomia.
A educação, assim compreendida, tem o poder de promover mudanças ou, no mínimo, contribuir para a participação proativa em todos os setores da sociedade, quando da afluência de questões mais delicadas.
No protagonismo conjuntural de questões como a violência urbana, as drogas, a maioridade penal, o desarmamento civil, a corrupção, é que se abrem brechas para o debate público, para emissão de pontos de vista ponderados e sugestões efetivas de solução ou contornamentos.
Nada disso, contudo, parece fazer parte de nosso repertório das ações “cívicas”. Pelo menos não é isso que se vê. Se a educação não é tomada pela sua raiz revolucionária, o protagonismo de um povo vai sendo postergado para um tempo além, quase não identificável.
Assim, gerações vão se perdendo sem vislumbrar mudanças realmente significativas, em meio ao pessimismo, a descrença e o engodo. Presa fácil do dirigismo patrocinado por grupos e corporações que, entrementes, lutam pela manutenção de seus próprios interesses e privilégios.
Um maior conhecimento, produzido e partilhado não nos livraria das trevas, é certo, mas ao menos evitaria a profusão de idéias centradas nas paixões. Ademais, nossa débil educação humanística geral age como incapacitante para formulação de opiniões mais balizadas, de domínio de métodos mais eficazes de análise da realidade circundante.  
O que parece sobrar-nos em termos de ardis políticos, pendores musicais (?) e malandragem futebolística, falta-nos na elaboração de métodos de apreciação das situações postas com isenção e objetividade.
Somos tomados pela emoção e pelos fracos critérios de análise. Não conseguimos ainda produzir um pensamento massudo sobre nossa realidade. Nossos posicionamentos, tão em moda, fartamente veiculados nas redes sociais da atualidade, expõem muito da nossa, ainda frágil formação, para análises contextuais e conjunturais e, consequentemente, para a participação consciente nos destinos de nosso quintal.

por Edson de França

               

               

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