A história
de um povo se faz pelo investimento nas formações individuais que, ao longo de
um processo de compartilhamento de ideias e participação social, acabam por se
materializar em decisões coletivas que influem nos comportamentos e nas realizações.
A
educação, a civilidade, o respeito, a honestidade, a lisura e até a capacidade
autônoma de decidir e influir nas questões polêmicas da vida social, como a
violência, por exemplo, demandam diretamente dessa equação.
Creio
não ser difícil intuir que a referência ao “amadurecimento individual” guarda
uma relação direta com os processos educativos de transmissão, aprendizado e,
sobretudo, construção do conhecimento.
É nesse território que os
reiterativos, e para alguns maçantes, clamores teóricos e práticos em torno da essencialidade
da educação como vetor de desenvolvimento do indivíduo e da sociedade
(capitaneadas, em nosso meio, por pessoas como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e
Cristóvão Buarque) ganha expressão.
Infelizmente, relegada a um
plano secundário por governos e, muitas vezes, levada a reboque até por agentes
diretos do processo, a educação entre nós continua sendo um problema estrutural
e, sobretudo, um item mal compreendido e parcamente assumido por grande parte
da população.
Educação em si não é só
dominar os territórios do letramento, da leitura básica, da formatação e
difusão de opiniões. Perpassa esses estágios, mas deve ser compreendida como
conjunto, uma parte sendo indissociável da outra, um composto que nos
capacitaria, individual e coletivamente, como entes autônomos de decisões, influência
e autonomia.
A educação, assim
compreendida, tem o poder de promover mudanças ou, no mínimo, contribuir para a
participação proativa em todos os setores da sociedade, quando da afluência de
questões mais delicadas.
No protagonismo conjuntural
de questões como a violência urbana, as drogas, a maioridade penal, o
desarmamento civil, a corrupção, é que se abrem brechas para o debate público,
para emissão de pontos de vista ponderados e sugestões efetivas de solução ou
contornamentos.
Nada disso, contudo, parece
fazer parte de nosso repertório das ações “cívicas”. Pelo menos não é isso que
se vê. Se a educação não é tomada pela sua raiz revolucionária, o protagonismo
de um povo vai sendo postergado para um tempo além, quase não identificável.
Assim, gerações vão se
perdendo sem vislumbrar mudanças realmente significativas, em meio ao
pessimismo, a descrença e o engodo. Presa fácil do dirigismo patrocinado por
grupos e corporações que, entrementes, lutam pela manutenção de seus próprios
interesses e privilégios.
Um maior conhecimento,
produzido e partilhado não nos livraria das trevas, é certo, mas ao menos
evitaria a profusão de idéias centradas nas paixões. Ademais, nossa débil
educação humanística geral age como incapacitante para formulação de opiniões
mais balizadas, de domínio de métodos mais eficazes de análise da realidade
circundante.
O que parece sobrar-nos em termos
de ardis políticos, pendores musicais (?) e malandragem futebolística,
falta-nos na elaboração de métodos de apreciação das situações postas com
isenção e objetividade.
Somos tomados pela emoção e
pelos fracos critérios de análise. Não conseguimos ainda produzir um pensamento
massudo sobre nossa realidade. Nossos posicionamentos, tão em moda, fartamente veiculados
nas redes sociais da atualidade, expõem muito da nossa, ainda frágil formação, para
análises contextuais e conjunturais e, consequentemente, para a participação
consciente nos destinos de nosso quintal.
por Edson de França
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