terça-feira, 5 de agosto de 2014

Inteligência social




Uma das expressões mais significativas que aprendi nos últimos tempos é “auto-sabotagem”. Foi em algumas matérias jornalísticas e ensaios sobre campo e oportunidades de emprego na atualidade que a palavra me conquistou. O poder de síntese que ela agrega dá-nos um mote explicativo para as condições (im) postas ao trânsito social da juventude em nossos dias e de como as pessoas se armam para enfrentá-las.
Parece direito supremo a possibilidade de a pessoa realizar-se, minimamente, em termos profissionais, pessoais, afetivos dentre outros. A prática, porém, não pinta esse direito como uma possibilidade real, mas um lance de probabilidades por vezes bem minúsculas. É nesse instante, na hora de amealhar talentos, tendências e vocações para enfrentar o mundo é que os sinais e efeitos da auto-sabotagem se fazem presentes.
A vida adulta, competitiva por excelência, cobra dos novos, além das habilidades naturais e adquiridas, uma percepção atilada, uma capacidade de absorção de conhecimentos e pitadas generosas da “boa malandragem” para adaptar-se sem trair tanto seus princípios mais arraigados. Na falta de qualquer uma delas, verifica-se a derrocada do ser, o deslocamento, a irrealização. O certo é que ao lado das inteligências múltiplas de Howard Gardner e da inteligência emocional – talvez fazendo uma fusão dessas duas – há que se desenvolver certa “inteligência social”.
Inteligência social seria a capacidade a ser desenvolvida de compreender com poucos toques a natureza da vida. Seus caminhos, descaminhos, estrutura, lógica e mecânica. Além disso, cultivar a capacidade de dar a cada evento de sua própria existência um significado. Mais que um ser vivente, um ente com a capacidade de observar a si e aos outros para montar modelos explicativos, refletir sobre eles e automodelar-se. Enfim, gerar comportamentos que justifiquem sua existência, ou a tornem, no mínimo, suportável.
Alguns passos, entretanto, são de importância capital no processo. Perceber-se como elemento ativo e empreendedor, primeiramente. Depois, agir como administrador de suas potencialidades. Contribuem para isso o acesso produtivo ao conhecimento e a noção clara da aplicação racional das energias nos engenhos da vida. Seja nos campos pessoal, familiares, profissionais ou no trato social. Lembrando que é sempre possível a autocrítica, a correção de rotas, a releitura.
A aplicação exagerada a engenhos improdutivos é o sintoma clássico da auto-sabotagem. Por vezes, o simples ato de negar-se a freqüentar uma escola, por exemplo, num país como o nosso, é um principio desse tipo de automutilação. Podemos elencar outros como os entrega doentia aos vícios de toda ordem, a paternidade (sobretudo a maternidade) precoce, a falta de aplicação na qualificação, a falta do cultivo de uma vida plena e sadia de relacionamentos, a negação a criação como principio de vida e o desperdício vital em atividades robotizadas.
É preciso, então, dentro da lógica do mundo competitivo e canibalesco ter atenção aos sinais perniciosos de auto-sabotagem, do auto-entrave de possibilidades e caminhos de realização.

por Edson de França   






















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