Uma das expressões mais
significativas que aprendi nos últimos tempos é “auto-sabotagem”. Foi em
algumas matérias jornalísticas e ensaios sobre campo e oportunidades de emprego
na atualidade que a palavra me conquistou. O poder de síntese que ela agrega
dá-nos um mote explicativo para as condições (im) postas ao trânsito social da
juventude em nossos dias e de como as pessoas se armam para enfrentá-las.
Parece direito supremo a
possibilidade de a pessoa realizar-se, minimamente, em termos profissionais,
pessoais, afetivos dentre outros. A prática, porém, não pinta esse direito como
uma possibilidade real, mas um lance de probabilidades por vezes bem minúsculas.
É nesse instante, na hora de amealhar talentos, tendências e vocações para enfrentar
o mundo é que os sinais e efeitos da auto-sabotagem se fazem presentes.
A vida adulta, competitiva
por excelência, cobra dos novos, além das habilidades naturais e adquiridas,
uma percepção atilada, uma capacidade de absorção de conhecimentos e pitadas
generosas da “boa malandragem” para adaptar-se sem trair tanto seus princípios
mais arraigados. Na falta de qualquer uma delas, verifica-se a derrocada do ser,
o deslocamento, a irrealização. O certo é que ao lado das inteligências
múltiplas de Howard Gardner e da inteligência emocional – talvez fazendo uma
fusão dessas duas – há que se desenvolver certa “inteligência social”.
Inteligência social seria
a capacidade a ser desenvolvida de compreender com poucos toques a natureza da
vida. Seus caminhos, descaminhos, estrutura, lógica e mecânica. Além disso,
cultivar a capacidade de dar a cada evento de sua própria existência um
significado. Mais que um ser vivente, um ente com a capacidade de observar a si
e aos outros para montar modelos explicativos, refletir sobre eles e
automodelar-se. Enfim, gerar comportamentos que justifiquem sua existência, ou
a tornem, no mínimo, suportável.
Alguns passos, entretanto,
são de importância capital no processo. Perceber-se como elemento ativo e
empreendedor, primeiramente. Depois, agir como administrador de suas
potencialidades. Contribuem para isso o acesso produtivo ao conhecimento e a
noção clara da aplicação racional das energias nos engenhos da vida. Seja nos
campos pessoal, familiares, profissionais ou no trato social. Lembrando que é
sempre possível a autocrítica, a correção de rotas, a releitura.
A aplicação exagerada a
engenhos improdutivos é o sintoma clássico da auto-sabotagem. Por vezes, o
simples ato de negar-se a freqüentar uma escola, por exemplo, num país como o
nosso, é um principio desse tipo de automutilação. Podemos elencar outros como
os entrega doentia aos vícios de toda ordem, a paternidade (sobretudo a
maternidade) precoce, a falta de aplicação na qualificação, a falta do cultivo
de uma vida plena e sadia de relacionamentos, a negação a criação como
principio de vida e o desperdício vital em atividades robotizadas.
É preciso, então, dentro
da lógica do mundo competitivo e canibalesco ter atenção aos sinais perniciosos
de auto-sabotagem, do auto-entrave de possibilidades e caminhos de realização.
por Edson de França
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