A aura sobre a cabeça de certas figuras do mundo
significa santidade, elo inquebrantável com a divindade, um grau superior de
espiritualidade. É normal e até natural que usemos a palavra aura para nos
referirmos aos estágios de aceitabilidade social de algumas pessoas. Avaliações
que vão dos extremos da persona
positiva e luminosa ao grau baixíssimo dos cães
miúdos, nefastos, intragáveis, personas non
gratas. Há quem utilize a leitura da aura como ação diagnóstica e
terapêutica. Mas a gama de interpretações auráticas não se extingue nesses
exemplos dados.
No
mundo político-administrativo, por exemplo, há outro tipo de aura a que
chamaremos, na falta de nomenclatura mais adequada, de “aura de competência”.
Os indivíduos laureados com essa manta inefável ganham sem muitos esforços ares
de príncipes intocáveis da administração pública. No jargão popular, seriam
figurinhas carimbadas, arroz de festa, cadeiras cativas, costas quentes ou
qualquer outro nome que se queira dar. São membros cativos e honorários do
seleto clube de comando da burocracia administrativa brasileira.
Assim
como os escolhidos de deus, teoricamente, tem um trânsito livre entre as
pessoas, independente da classe social, cor da pele, roupagem que esconde as
vergonhas ou níveis de fé, os intocáveis transitam entre todas as cores
partidárias, ideológicas e de projetos políticos com uma desenvoltura
ímpar. Invejável, até. Se a nossa
impressão de infalibilidade fosse no mínimo similar aos apolíneos da
administração pública certamente estaríamos a salvo de muitas intempéries da
vida prática. Mas, infelizmente, não é assim que a coisa rola para nosso lado, tão
reles mortais. Tão despidos de aura.
Versáteis,
descolados e acima de tudo “competentes”, eles flutuam acima de qualquer
orientação ideológica que ocupe o governo. Algo incongruente assim como
professar o socialismo e figurar nos primeiros escalões de um governo
ditatorial. A história político-administrativa da Paraíba está cheia deles.
Caso fosse feito um levantamento biográfico dos governos do estado fatalmente
esbarraríamos em muitos dessas camaleônicas criaturas. Não importa qual grupo
político ocupe o poder e um olhar mais acurado irá detectá-los, nem que seja
num cargo de menor. Nem que seja administrando um mercado de pulgas nos
arrabaldes das cidades.
Claro
que para se administrar não se precisa de muito conhecimento da área em si.
Basta ter trânsito social, estar imerso nos conchavos político- partidários que
se armam a cada pleito e, principalmente, ser essa espécie de especialista em porra nenhuma que se chama chefe. É preciso saber chefiar, sim. Ou
melhor, pertencer por calejamento das mãos a essa sub-espécie que apresenta no
mínimo pose de cacique, pachá ou guru. Só não dá certo quem não tem saliva e
ladinice para montar a rede de sustentação, orientar o dedo que indica,
legitimar-se como competente, mesmo que na apuração da massa bruta, o resíduo
não passe da matéria de que são feitas as auras. Impalpável, etéreo, imaterial.
Porém de uma onipresença fantástica.
por
Edson de França
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