A
expressão políticas públicas ganhou entre nós uma dimensão retórica. É
peça verbal facilmente detectável na prosa de agentes políticos de todos os
níveis. Isso em dois sentidos. Por um lado conota o desejo, por vezes real, de propor,
promover ou cobrar ações no sentido de sanar ou dar diretrizes de intervenção
para solução de alguns problemas. Ao contrario, porém, pragmaticamente falando,
denota a incapacidade de montar estratégias para, no mínimo, minorar certas
situações de conflito ou marcos estruturais.
Claro
que aqui falamos de retórica no sentido mais chulo que você, caríssimo leitor,
puder conceber. Incluam em seu entendimento as noções de “bem falar”, mas
carreguem no quesito floreamento, estratégia de postergação e carga persuasiva.
Ao final, com certeza, a retórica a que me refiro soará como algo assim próximo
do vazio de intenções e ações efetivas. Uma expressão da insinseridade,
hipocrisia e falta de afinco na concretização de algo.
Diga-se
que política pública, em teoria, é o instrumento que viabiliza a ação de Estado
e a convivência deste com a sociedade civil. De acordo com a Wikipedia ela pode
ser “concebida
como o conjunto de ações desencadeadas pelo Estado - no caso
brasileiro, nas escalas federal, estadual e municipal -, com vistas ao atendimento a
determinados setores da sociedade civil”.
Numa
definição atribuída a Vargas Velasques, a enciclopédia virtual acrescenta
ainda: "conjunto de sucessivas iniciativas, decisões e ações do regime político
frente a situações socialmente problemáticas e que buscam a resolução das
mesmas, ou pelo menos trazê-las a níveis manejáveis".
Fica
explícito, pela definição acima, que as políticas públicas envolvem, a um
tempo, o desejo real e ação efetiva. Iniciativa, decisão, ação e, em nosso
caso, urgência dos afogados formando um conjunto uno, indissociável. Um
processo que a meu ver não pode demandar tempos de gerações, nem entraves
burocratizantes. E esse, caso concordem comigo, é um dos nossos calos mais
expostos.
Políticas
públicas são efetivadas por etapas, obedecem aos rigores dessa palavrinha
também gasta chamada “processo”. Dependem do envolvimento do governo, da
percepção de um problema, da definição de um objetivo e da configuração de um
processo de ação. O papel da sociedade civil nesse processo é imperativo. É ela
que, sofrendo na pele ou detectando problemas, tem a missão de encaminhar as demandas,
propor soluções, cobrar.
Não
compreendê-la sob esse prisma é tirar da política pública a condição de instrumentação
da convivência democrática e da construção de um país. Estaremos por fim
pisando, perigosamente, no território do engodo e da inércia.
por
Edson de França
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