Todos os anos os noticiários nacionais tentam conferir um
ar de curiosidade a chegada do ano novo chinês, evento ocorrido na última
semana. A raridade do fato repousa nos elementos exóticos e incomuns que a data
articula. Claro que a nossa parca imaginação, inundada de resquícios
antropocêntricos, não perderia a chance de deleitar-se com essas aparentes
esquisitices da terra dos mandarins.
A
associação do ano a um animal que confere, por associação, qualificações e
prognósticos para o novo período é um desses estranhamentos enaltecidos pela
mídia. Ano passado deu cavalo na cabeça. Este ano, por lá ainda indecisos,
acham que serão regidos pela cabra, ovelha ou carneiro. Para nós, essas coisas
não passam de dicas preciosas para a fé no jogo do bicho e a chance de
financiar, anonimamente, as enredações do próximo mega-carnaval de temática
polêmica.
Outra
estranheza é a contagem dos anos que nada tem a ver com o nosso calendário
ocidental, ou melhor, não está acorrentado aos estados e humores do mundo da
lua. Por lá comemoram “míseros” 4.713 anos, por cá a vida segue com a nossa
gregoriana lógica que nos concede 2.014 ciclos civilizatórios completados.
Quem
pensa, ingenuamente, que mantemos uma distância quilométrica da cultura chinesa
erra feio. Por lá comemoraram o ano novo, por cá, reza a picardia popular,
estamos agora a começar o ano. Como diz a voz do povo, o ano por aqui só é
realmente novo depois do carnaval, justamente para coincidir com a efeméride
chinesa.
Até a invenção do brasil, seguindo o raciocínio
de velho compositor popular, se deu “no dia 21 de abril/ dois meses depois do
carnaval”. (Salve Lamartine Babo e sua sagaz versão para a História do Brasil).
Então, desculpem-me as pessoas que derramam suor desde o primeiro dia do ano,
mas o ano literalmente está começando e não há nada de engraçado nisso a não
ser a nossa risível capacidade autoanálise destrutiva.
Estamos
prontos para o ano, enfim. Ainda em processo de transição seja o mais correto,
pois é difícil se acostumar com os miasmas que ele ameaça evocar.
Os
aumentos das contas de começo de ano já se adiantaram aos nossos devaneios. As
intrigas políticas, acusações de A para B e vice versa, num ringue onde os dois
lados se equivalem já nos deixam bem bodeados. Nas ruas e nas redes tem gente
clamando por golpe. O Big Brother já
está no ar. O Faustão já busca novamente “iluminados” para o estrelato bel
cantante do brasil varonil. Juiz carioca, representante do olimpo encarnado,
desfila com bens de “luxo” apreendidos. Tem futebol terça, quarta, quinta,
sábado e domingo. Eduardo Lages já se rendeu aos dotes musicais de Annita... Haja
motivos para nos quedarmos de bode.
Se
por lá pela China estão indecisos, por cá o bode já tá reinando, solto na
capoeira. Por associação, estamos literalmente bodeados. Estar chateado é o
sentimento mínimo que se pode experimentar nesse estado de coisas. Outros
sentimentos mais cabeludos também imploram por ocupar a cena. Há tristeza,
abatimento, desassossego e muita inquietação pra se queimar sob a luz mortiça
dos fogos de nosso réveillon tardio.
por Edson de França
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