Mais de uma vez ouvi de professores o seguinte comentário: “Tenho alunos que gastam os tubos para realizar a festa de formatura, mas que durante o curso inteiro não compraram um único livro. E pior, não adquirir uma única obra básica da área que escolheram para se profissionalizar é até compreensível; não ler os textinhos didáticos das aulas é o fim da picada.” O desabafo e a constatação pessimista dos mestres mostram duas coisas: o nível do nosso ensino superior tende a ser baixíssimo, pelo material humano que a ele é guindado e; segundo, a formação superior virou griffe. Um luxo, um capricho, um hábito fútil como as lentes coloridas e os faróis de neon que iluminam, por baixo, os automóveis da galera descolada.
É moda universitarizar tudo. Depois do galicismo oitocentista e da americanização dos anos 50 em diante, parecíamos ter chegado ao nosso limite. Qual nada. Numa onda de nacionalismo exacerbada descobrimos a pátria acadêmica e passamos a querer ser universitários a todo o custo. Isso talvez servisse para esconder algumas deficiências nossas (como as deficits de formação básica, por exemplo) e, também, para emprestar certo status a tantos de nós, tão pouco afeitos aos malabarismos do intelecto e, por que não, do espírito.
É in ser tribal. Pertencer a tribo de algum curso, de preferência o da moda. Se a moda é Biomedicina, porque não exibir por aí uma t-shirt com uma representação qualquer do curso que freqüento, mesmo que só retenha uma vaga idéia do que se estuda por lá? Porque não encher uma camiseta com símbolos e frases de efeito relativas a uma área qualquer para demonstrar meu pertencimento aquela gangue em particular? Ser tribal constitui uma cultura particular do mundo dos consumismos. Ensino universitário é assim. Um produto, comprado a pesadíssimas mensalidades, não sob a pena de tornar o individuo melhorado ou minimante profissional, mas tão somente laureado pelo glamour que a griffe empresta.
O ensino superior, dito universitário, virou uma marca um rótulo e, como todo rótulo, repleto de sentidos e interpretações. Interpretações que levam incautos a dar aura de inteligente a qualquer coisa que a porte.
Por que, do nada, eclode um movimento chamado forró universitário e ninguém de plantão para nos explicar por quê? Por que um bando de neo-sertanejos que inclui Michel Teló e Luan Santana, versões nacionais e caipiras da mega-estrela Justin Bieber, são precedidas de uma marca chamada inadequadamente de sertanejo universitário. O que o mundo universitário tem a ver com isso? O que explicaria a tomada dessa marca? Talvez a presença maciça de jovens universitários nos shows desses rapazes, talvez a idade dos mancebos, compatível com quem deveria estar na universidade (sei que eles não estão, e se chegarem a farão a distância, pois universidade é incompatível com os planos imediatos das estrelas do mundo pop, até para estudar música); talvez, finalmente, por que o nível mental (que envolve audição, senso estético, cultura e sentimento) daquelas super-produções não ultrapasse a leitura, com a voz uma oitava acima e a mente várias páginas abaixo, de um meteoro de paixão por parte dos nossos acadêmicos.
por Edson de França
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