“Eu vejo o futuro repetir o passado/
Eu vejo um museu de grandes novidades.”
(Cazuza – O tempo não pára)
A monarquia brasileira morreu de inanição faz eras, porém uma análise do quadro político brasileiro (não sei dizer se em outras democracias o mesmo acontece, mas posso falar pelo que vejo no nosso terreiro) nos revela que os hábitos da velha nobreza palaciana ainda sobrevivem. Tudo como de antanho. O velho ramerrão entre palacianos e paupérrimos súditos de vossas majestades continua vigente, mesmo que travestido de uma meicape modernosa.
Monarquia denota sucessão sanguínea. Nela, os rebentos sabem da sua condição de reis em potencial desde crianças. São os marcados, os escolhidos. Caminham pelos corredores e camarinhas dos palácios aprendendo ali, no leito das manias senhoriais, todos os desvãos do poder. O que envolve a intriga, o jogo de interesses, a boa ou má vontade do soberano sobre seus serviçais e súditos. É com esse aprendizado nas mãos que o escolhido assumirá o poder um dia.
Na nossa condição contemporânea, lideranças não são espontâneas. Alguma temporã pode até despontar por acaso, contudo, dificilmente conseguirá entrar e se manter nos panelões aristocráticos que compõem os núcleos de nossa democracia monárquica. Falta-lhes, talvez, pitadas de sangue azul nas veias, ou mesmo leves êmbolos de azul de metileno circulando pelo corpo. O espocar de lideranças por essas bandas obedece a princípios particulares. E são muito bem detectáveis para além das capitais, mesmo que este seja um principio naturalmente impregnado n’alma brasileira de Porto Alegre a Gado Bravo.
O Nordeste, não é de hoje, já teve seu condicionamento sub-desenvolvimentista soberbamente explicado pelas ações perniciosas de sua casta de políticos, nossa monarquia mirim. São as “permanências”, das quais nos deu noticias um dia o professor Gilvandro Sá Leitão Rios, catedrático em Sociologia da Universidade Federal da Paraíba. Às permanências, detectadas pelo professor, ousamos denominar tão somente de “continuidades maléficas”, mesmo sob a égide inegável da “mutabilidade” que tinge a condição moderna em que vivemos. Vivemos um tempo mutante, porém sob a imperiosidade de renitentes e incômodos lugares-comuns.
Políticos que “representam” feudos, ou melhor dizendo, ao meu olhar armorial, cidades-reinos ou principados de suntuosidades e decadências, onde a ignorância, passividade e tibieza participativa da população em geral convivem com estratégias de poder de potenciais experts do poder de mando. Famílias (ou seriam clãs, famiglias?) mantém como parte do sustentáculo de seus círculos uma relação incestuosa com os poderes centrais e adjacências. Daí não importa a letra do ferro com quais elas marcam seu rebanho. Qualquer um brasão manterá sempre o mesmo modus operandi: uma continuidade que passa pela ritualística ascensão ao poder e a entrega ritual do cetro para entes preparados (?) para sucessão. Ou tão somente, para uma continuidade... de erros.
por Edson de França
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