Jornalismo sério no Brasil é artigo de luxo. Exige dois preços. Um intelectual; não é produzido nem para (nem por) oligofrênicos, nem agrada a patuléia desinteressada e analfabeta funcional. Outro, financeiro; não está a venda a preços populares como os blood news, esses epidêmicos tablóides que infestam o país, espécie de caça-níqueis de empresas em franco processo de desaprendizagem jornalística e comercial. Tampouco pode se valer apenas da abnegação e genialidades opinativas dos jornais de autor.
Se fossemos apontar hoje uma fonte de jornalismo confiável em nível de Brasil, teríamos que nos contentar com uns pouquíssimos títulos. Esses geralmente independentes e tendentes às posições outrora rotuladas de “esquerda”. No mais, no dito mundo editorial dos jornalões, dos sites de toda ordem e dos jornalísticos televisivos radiofônicos, a carência é geral.
Peca-se pelo conteúdo editorial frágil, e justo na informação que é a coluna mestra do jornalismo com a produção da notícia. Peca-se no ajuste da opinião, uma vez que qualquer um dá opinião sobre tudo. Não que a opinião seja artigo para especialistas apenas, não é isso, mas o excesso de holofotes sobre alguns célebres palpiteiros compromete o exercício saudável da apreciação da realidade sócio econômico e cultural de um país. Peca-se pela falta de criticidade; falo da crítica comprometida e formadora. Peca-se, finalmente, na carência do auxílio honesto, sem pieguices, sacerdócio ou qualquer coisa que o valha, ao pensamento nacional, através do incremento de possibilidades de conhecimento e interpretação.
Invadiu e se intalou confortavelmente na saleta do sensacionalismo o jornalismo brasileiro. E para esse ato, podemos até encontrar defensores, sob a desculpa de “estamos tão somente explorando o filão do que o “povo” gosta, do que o “povo” consome”, “ao menos, num país que não lê, estamos produzindo um literatura popular”. Pobre povo, que somos todos nós, tomados como seres de mentalidade rasteira. Um bando de incapazes. Bem abaixo dos burros que só exercem sua burrice de fato quando atravessam uma via movimentada, pondo em risco suas finíssimas canetas.
Poderíamos dizer, parodiando Lobato, que uma nação é feita de homens e jornais. E jornais servem para incrementar e manter o status da democracia. Todo entendimento do cidadão acerca do mundo que o cerca passa necessariamente pelo veio jornalístico. É ele que fornece os elementos, seja ouro ou cascalho, que permitem ao individuo posicionar-se diante das correntes de pensamento de seu tempo. Ao jornalismo cabe a promoção do diálogo, a captação dos fluxos relacionais da opinião pública e a vigilância permanente aos desvios dos setores de mando no país. Isso sintetiza o papel da imprensa num país. Se não tivermos isso minimante, se de nossas minas só extraímos ouro de tolo; e até for-nos difícil localizar nichos dessa prática no nosso meio, então, estamos indo de mal a pior.
por Edson de França
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