Só se vai atualmente a um restaurante ou bar que seja instagramável. Sendo o palavrão aí utilizado no sentido da escolha pelo local ser intensamente motivada por condições que garantam boas fotos para as redes sociais. Para montar esse menu pós-moderno, os empreendimentos se esforçam em montar cenários e ambientes que contentem as vontades de seus habitués. É imperativo.
Cidades, logradouros e até santíssimas igrejas aderiram à modinha. As fotografias nunca falaram mais que trocentas palavras que agora. Registrar momentos e disponibilizá-los nas malhas da rede para consumo público faz parte do marketing pessoal em tempos de solidões sólidas e interesses sociais (in) questionáveis.
Ser in é mostrar a rotina nas redes. De preferência fazendo presença em endereços da moda, munido de objetos que demonstrem alguma ostentação e em certas, e preferencialmente atrativas, companhias.
Num mundo ditado pela projeção da imagem, regido pela ditadura da exposição extrema e pela fissura nas telas, chega até ser natural o expediente. Faz parte da estratégia de presença/existência social. Amadores selfies-mades ou perfis elaborados por profissionais, não importa. O que vale é ser persona arrendatária de algum quinhão, mínimo que seja, do latifúndio digital.
No mais, é preciso alimentar as redes diariamente ou com alguma regularidade quase científica. É preciso sanar o apetite voraz de voyeurs, followers e stalkers mansos. Tanto faz que seja um grão entre os exércitos de anônimos, profissional “influencer”, artista ou político.
Estes últimos são a bola da vez nas redes, afinal a campanha política está no ar. As redes são o marcapasso de corações e mentes, um território a ser explorado. Quem almeja manter ou ampliar sua penetração junto aos público tem que montar uma tendinha por lá. Munidos de ferramentas básicas como os tais cenários, domínio de linguagem apropriada e disponibilidade até para o ridículo humano fundamental.
Mais que os cenários, porém, os personagens têm que ser instagramáveis, adotando de passagem qualificativos - entre formais, risíveis e pitorescos - para elaborar suas aparições. Falar nem é preciso tanto. O discurso escorreito e inflamado ficou no passado. A era de ouro dos tribunos foi superada.
Também não é necessário ter beleza e porte de galã da novela das 8. Nada disso.
Os profissionais de social mídia, com seu olho clínico, exploram os cacoetes naturais da figura. Caso não os tenha, inventa-se. O importante dentro do manual das redes, ao final, é mantê-lo diuturnamente ao alcance do olho do curioso espectador.
Exposição controlada, obedecendo a horários precisos e racionais, linguagem despojada, conteúdo leve com pitadas de positividade, eis um esboço descompromissado de fórmula. Se puder matizar a postagem com alguma graça ou humor, então tá completo o feitiço.
A ação (ou seria ambição) política migrou de vez para o mundo virtual. E de maneira tão intensa que a Inteligência Artificial já faz das suas, substituindo a prestidigitação natural do ser político por artifícios muito mais críveis. Ou melhor, ampliando-a. Os recursos da IA tornam qualquer discurso verbal inócuo, e podem atingir uma campanha ou um adversário muito mais ferinamente.
Assim como faz um feio parecer bonito na foto; um chato, agradável;um aporófobo, empático social. Até tartamudos podem, num passe de magia, virar ases da oratória.
Gestores, políticos já feitos e aspirantes de maneira geral aderiram, de corpo e tentações, ao feitiço das redes. Não conheço o ementário dos cursos voltados ao Marketing Político, mas suponho que “usufruto das redes” faz parte do conteúdo programático. A campanha está em curso e, como nunca se viu, é hora de instagramar os candidatos. Depois de eleitos, claro, a farra continua.
por Edson de França
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