Seria demais exigir um mínimo que seja de coerência por parte dos influenciadores digitais. A natureza fluida e oportunista de seus “afazeres” impede o uso desse expediente. Loucos por fama e grana em geral não costumam incluir “fraquezas” em seus repertórios. E coerência, parcimônia, equilíbrio e senso de coletividade fazem parte desse rol de “fragilidades humanas”.
Fragilidades humanas são bens “maturáveis”. Por “maturáveis” cabe entender que são frutos não apetecíveis ao paladar de apressados e imaturos. Só tednem a se desenvolver em quem viveu um tanto e aprendeu um pouquinho da natureza controversa da existência. Só a alta sensibilidade nata, uma criação familiar e uma educação voltada a esses princípios, além dos ápices da idade da sabedoria, quando não viciados, é que as condicionam.
Por seu turno, os influencers administram outros valores como a infalibilidade, o destemor, o “empreendedorismo” sem lastro, a visibilidade social ilimitada, o desenvolvimento e o cultivo de emoções liquefeitas. As regras formatadas para gerar os “bens sucedidos” no atual contexto histórico, pressupõe “pessoas fortes”, com “fortes” a significar competitivas, sanguinárias e oportunistas.
A coerência não se alia a esses componentes dos “latifundiários" da comunicação atual, pois pressupõe autopreservação, cautela, consciência social e respeito pelo ser humano, individual e coletivamente. Parcelas consideráveis de influencers, content creators, coachs e aparentados não querem saber dessas “fragilidades humanas". Também não pensam em desenvolver a menor porção deles.
Se colocar a cabeça de um semelhante na guilhotina tem seu peso em likes, projeção e dinheiro na caixa, eles certamente as colocarão. Se arrastar reputações alheias ao rés do chão redundar em sucesso, eles se esmeram. Além, é claro, da desorientação pública e indução ao consumo compulsivo de supérfluos, na qual eles são mestres. O caso dos “joguinhos” que tomou conta do noticiário há uns dias é sintomático desse modo de agir.
Os “tigrinhos” e “aviãozinhos” foram impulsionados, tornaram-se populares graças à influência dos “astros” nas redes sociais. Mesmo tendo consciência do potencial enganoso dos jogos, eles embarcaram de multiplicadores da ideia. “Que se lasque, quem quiser jogar”, pareciam pensar eles. Totalmente, vê-se despreocupado com as perdas desses mesmos que, com sua idolatria, mantém seus impérios.
Derradeiras abaixo:
1 - Publico esse texto no momento em que remoo grandes sucessos sucessivos sucessivamente sem cessar de influencers. O escrevi numa época em que a quatrocentona capital paraibana tão pudica, tão provinciana, se viu “abalada” diante de publicações libertinas produzidas por um influencer e seu harém de esposas. Descontando a parte de hipocrisia da sociedade, o resto é histeria para História.
2 - Dias próximos, um influencer pernambucano foi ouvido pela justiça paraibana por conta de prática de direção perigosa numa das principais vias da capital. Saiu dizendo que a imprensa paraibana era um lixo. Crime da imprensa: repercutir as imagens do crime produzidas pelo exibicionista criminoso. No mínimo contraditório. Não é por isso - pela visibilidade - que eles se matam? Qual o erro da imprensa ao repercutir os malfeitos dessas “celebridades”?
3 - A intimação ou prisão de influencers por conta dos joguinhos, assim como de outras façanhas, não causa surpresa. A grande maioria não está aí para influenciar positivamente os indivíduos. Vendem, sim, um modelo de sociedade onde o individualismo, o consumo e a demonstração exterior de riqueza é o que conta, em primeiro plano. No vácuo dessa tendência, seguem os preconceitos (contra pobres, inclusive), o capacitismo, a moral e a ética distorcidas e, finalmente, uma visão de sociedade totalmente descolada da realidade.
por Edson de França