Abuso de reticências. Já abusei mais, mas deixei de usar do expediente ao conhecer a palavra reticente. Esta ultima que dizer exatamente “que ou quem age com reticência diante das situações; que ou aquele que hesita, que vacila”, tendo como sinônimos as palavras quieto, calado, fechado, reservado e indeciso. A reticência pode ser considerada como típico comportamento da pessoa que não tem nada a dizer, ou tem imprecisão sobre o assunto que trata.
Em meio a minhas
atividades como jornalista e professor as reticencias aparecem como um
problema. Um hábito capaz, unicamente, de gerar interpretações nada elogiosas
por parte do interlocutor imediato. Quase sempre apontando para a “falta de
informações” ou “insegurança” do retor, do emitente das mensagens. Colocando
numa imagem aproximada, o gigolô das reticencias se expressa numa linguagem
próxima da telegráfica, naturalmente lacunar.
Me referi acima ao ato
de interpretar e essa pratica, para além dos pré-conceitos listados sobre o
emitente de uma mensagem, nos põe, quando profissionalmente, no papel de
decifradores de reticencias. Ou seja, tentamos adivinhar aquilo que a pessoa
não disse ou não teve condições de elaborar. Quando se fala de informação
objetiva não se deve recorrer a figuras ou recursos estilísticos. Reticencias
fazem bela figura na construção poética, sugestão estilística para o devaneio
do leitor.
Decifrar reticencias é
um exercício onde o escrevinhador tem, forçosamente, que recorrer ao arsenal da
imaginação, dos conhecimentos prévios e dos malabarismos verbais para expressar
a mínima ideia. O jornalismo, assim como outras atividades, detesta o vazio da
pagina. Não se cria com lacunas. A motivação do mesmo é informar da forma mais
completa possível. E isso exige um monte de palavras, de preferencia precisas e
exatas.
Trabalho de certa forma
árido, digamos. Após o exercício de imaginação, o autor, notavelmente se dá por
satisfeito. Criou em cima das parcas ideias fornecidas, das ausências de
argumentos e de informações básicas. Hora de devolver o texto à fonte para os últimos
ajustes. Aí vem a surpresa. A fonte não age tão laconicamente como na hora do
contato inicial. Discorda do texto pronto e se sente, como nunca, no direito de
refazer integralmente as ideias escandidas que foram motivadas pela sua
insegurança, fechado, indecisões e reservas.
por Edson de França
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