Se
há um troço nauseante na cultura brasileira chama-se idolatria maestralizada pela mídia. Nela, laivos de oportunismo e
babaquice, uma sebosa cumplicidade entre a corda e o pescoço, formam um banquete
tétrico. Servido como repasto frio para mentes distraídas, convém ao apetite
voraz das massas desavisadas e ignaras.
Creio
que, para uma mente minimamente crítica, o acepipe figura como empadão
indigesto, imoralmente adiposo, desses produzidos a revelia em rodoviárias com
ingredientes de segunda e manipulação insalubre. Claro que como todo embuste é
servido sob uma aparência pra lá de asséptica para dar ares de lisura, importância
e com laços parentais com os imprescindíveis da vida. Numa expressão acadêmica,
processo chulo de construção da legitimidade.
Nos
últimos dias assistimos mais uma vez a ensaios patéticos nessa direção. Os
hegemônicos, meios fabulistas de comunicação e respectivos porta-vozes,
escolheram mais um iluminado,
deram-lhe uma biografia positiva e ascendente e exploraram até o fim a tragédia
pessoal. Tudo muito bem arquitetado.
Um
investimento de horas (regiamente desperdiçadas por basbaques de todas as
idades, classes e ocupações em frente às telinhas e telonas) na construção do
mito, através da exploração mais vil da sentimentalidade e da comoção coletiva.
Horas de fidelidade. Investimento maciço e maquiavélico na condução das visões de mundo de uma nação (ou de uma
parcela considerável dela). A frio, duas faces de um mesmo desserviço cultural.
O
sentimento de nacionalidade é, entre nós, construído pela forçação de barra dos esportes. Retirando o lado positivo (que
existe), o problema está na reserva com os sujos bastidores e a irrealidade que eles traduzem e a que,
fatalmente, conduzem. Nos mesmos moldes, irrelevâncias do mundo pop são conduzidas ao panteão da
visibilidade para servir a formatação de uma mentalidade medianamente pífia e
a-estética.
Penso
que há uma máxima, ao que parece cultivada pelas divinas inteligências
midiáticas, que um povo precisa de ídolos e deuses. Uma coisa assim como um
Olimpo. Para tais deuses, culto e submissão. Ao outros, os súditos, alimentos
para a alma sequiosa por preenchimentos banais.
Para
os últimos, as facilidades de apreensão, a inoculação a fórceps de visões distorcidas de mundo e de vivencias que ampliem
o crescimento coletivo e a própria ascensão individual.
Por Edson de França
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