quarta-feira, 15 de julho de 2015

Idolatrias maestralizadas

Se há um troço nauseante na cultura brasileira chama-se idolatria maestralizada pela mídia. Nela, laivos de oportunismo e babaquice, uma sebosa cumplicidade entre a corda e o pescoço, formam um banquete tétrico. Servido como repasto frio para mentes distraídas, convém ao apetite voraz das massas desavisadas e ignaras.
Creio que, para uma mente minimamente crítica, o acepipe figura como empadão indigesto, imoralmente adiposo, desses produzidos a revelia em rodoviárias com ingredientes de segunda e manipulação insalubre. Claro que como todo embuste é servido sob uma aparência pra lá de asséptica para dar ares de lisura, importância e com laços parentais com os imprescindíveis da vida. Numa expressão acadêmica, processo chulo de construção da legitimidade.
Nos últimos dias assistimos mais uma vez a ensaios patéticos nessa direção. Os hegemônicos, meios fabulistas de comunicação e respectivos porta-vozes, escolheram mais um iluminado, deram-lhe uma biografia positiva e ascendente e exploraram até o fim a tragédia pessoal. Tudo muito bem arquitetado.
Um investimento de horas (regiamente desperdiçadas por basbaques de todas as idades, classes e ocupações em frente às telinhas e telonas) na construção do mito, através da exploração mais vil da sentimentalidade e da comoção coletiva. Horas de fidelidade. Investimento maciço e maquiavélico na condução das visões de mundo de uma nação (ou de uma parcela considerável dela). A frio, duas faces de um mesmo desserviço cultural.
O sentimento de nacionalidade é, entre nós, construído pela forçação de barra dos esportes. Retirando o lado positivo (que existe), o problema está na reserva com os sujos bastidores e a irrealidade que eles traduzem e a que, fatalmente, conduzem. Nos mesmos moldes, irrelevâncias do mundo pop são conduzidas ao panteão da visibilidade para servir a formatação de uma mentalidade medianamente pífia e a-estética.
Penso que há uma máxima, ao que parece cultivada pelas divinas inteligências midiáticas, que um povo precisa de ídolos e deuses. Uma coisa assim como um Olimpo. Para tais deuses, culto e submissão. Ao outros, os súditos, alimentos para a alma sequiosa por preenchimentos banais.

Para os últimos, as facilidades de apreensão, a inoculação a fórceps de visões distorcidas de mundo e de vivencias que ampliem o crescimento coletivo e a própria ascensão individual.   

Por Edson de França

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