quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

A provocação Vinícius Junior


P
eguei a conversa pelo rabo, como quem capta um lance fortuito assim, digamos, de esquina de olho. Empolgados da mesa vizinha discutiam o mundo do futebol. Entre os assuntos, ouvi dizerem que os casos de agressões racistas contra Vinícius Jr, por terras espanholas, se dariam por culpa deste mesmo. Ele conduz as “provocações” à torcida, concordavam entre si. 

Como justificativa, defendiam a tese que o clube conta com muitos jogadores negros e o mesmo não se daria com eles.

De cara pensei na limitação do argumento. Também pendi para o registro de uma total falta de análise da situação em seu conjunto, assim como um desconhecimento fatal do problema racial por aqueles campos onde o jogador atua. 

Não conheço, para começo de conversa, nenhuma reportagem ou estudo extenso que investigue os casos de racismo entre os jogadores negros, de ontem e de hoje, que futeboleiraram por lá. Portanto, como basear um caso pontual sem conhecer estruturalmente a mentalidade de um país? 

Penso que uma das poucas referências ao racismo por lá ouvi, de passagem, em uma reportagem do apresentador Otávio Mesquita (SBT). De passagem por uma dessas mega arenas de um dos gigantes espanhóis, o jornalista questionou o seu interlocutor (juro que não lembro quem era) sobre os casos de racismo nos estádios.. 

Relatava ele que seu câmera man, um homem de cor, sofreu agressões racistas efusivas enquanto apenas cumpria sua missão de registrar a plateia ensandecida. Pergunto, que mal um profissional da imagem poderia fazer para aquela gente? Qual “porquê” da gratuidade das agressões? Fora direcionar seu instrumento de trabalho para eles - assim como tantos outros fazem -, qual a “provocação” que ele poderia produzir para mexer com os brios do povo?

Os jogadores brasileiros, de uma forma geral, são omissos quanto a essa questão. Não se ouve um pio. Mais fácil, infelizmente, a denuncia partir de um “branco” que de um negro. Nada se ouve da boca dos mais retintos ou dos “embranquecidos” pela grana e pelo status. 

Difícil, de toda a forma, lá pelo principio, é ver-se como negro. Creio que muitos engolem o choro para não atingir a indústria do esporte, enquanto outros por conveniência mesmo ou não terem a mínima consciência de cor e origem. Alguns são uma verdadeira decepção. Dá até para enumerar exemplares, feito cartas colecionáveis de Pokémon.

Voltemos ao caso Vini Jr.. A grande provocação de Vinícius é, primeiramente, ser negro e, sobretudo, apresentar traços bem acentuados. Não dá, no caso dele, para se esconder da negritude ou disfarçá-la. Em segundo lugar, Vinícius se aceita como tal e isso agride a sociedade “branca” em torno do futebol. 

A beleza do traço negroide é elemento de difícil assimilação por parte de quem, se olhando no espelho, aprendeu a valorizar mesmo finos traços da face como único ideal do que é belo e aceitável. Mesmo quando mínimos, mesclados ou miscigenados, portador os assume como um diferencial de pertencimento.

O que foge a esse “ideal” passa a ser digno de rejeição e chacota. Até o status humano, se for conveniente, é negado ao ser que exibe por aí seus traços diferentes. Ironicamente, celebridades copiam os lábios grossos do povo negro em arriscadas cirurgias estéticas. Aí, também mora a velhíssima hipocrisia dos contentes.

Todo jogador introduz mungangas em suas comemorações. Não importa a cor. Todo atleta, de um jeito ou de outro, atiça os adversários, de forma sutil ou escandalosamente. Nunca assisti, contudo, uma rejeição parida por uma turba sangrenta e insana contra um jogador em específico e reiteradamente. Com episódios eclodindo até em vias públicas, como no caso do boneco enforcado numa ponte. 

Serão as provocações de Vini mais elaboradas que os demais? Será o atleta um performer de provocações mais que jogador de futebol? Que ardis utiliza ele para suas provocações serem tal afetivas, tão eficientes? Só vejo eficiência em sua tez moral e nas performances dentro das quatro linhas, nada mais.

É muito difícil, convenhamos, para o brasileiro mediano entender a dimensão racista do mundo. Nem pela camada mais epidérmica do problema. Mais difícil, quase impossível, é entender o componente estrutural dessas questões. Como ela se reproduz? Quais as raízes indelevelmente instaladas no inconsciente dessa gente demente? 

A história humana está aí para contar e explicar, mas quem quer saber de história além da curiosidade lida às pressas nas redes sociais? Se o individuo se detivesse um pouquinho mais veria o tratamento que a velha Europa sempre dispensou aos negros. No que andou aprontando pelas colônias, onde visou sempre o mineral precioso e nunca jamais o elemento humano? 

Sim, senhores, a mentalidade etnocêntrica e escravista está para Europa, assim como o “complexo de vira lata” está para as repúblicas abaixo do equador.

Concluindo. O homem comum vive de provocações, de colocações, de emissão de pontos de vista. Um homem com DR no nome, mesmo insano, é levado em consideração apresentando-se socialmente ou falando “miolo de pote” ou fazendo “macaquices”. 

Se for branco, então, parece ter um status naturalmente adquirido para palrar, fazer munganga, ser pouco civilizado e arrogante. Sendo branco pode provocar. Dificilmente, porém, sua provocação, por mais agressiva que seja, despertará a ira de multidões. Em caso de figura negra, além do maestralismo oculto, os conceitos morbidamente internalizados ascendem à flor da pele, à boca suja, à pantomima dos gestos desclassificantes. Pense nisso!!!!!

por Edson de França 

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

E a palavra do ano é?

 

Que rufem os tambores! A expressão do ano de 2024 foi: “brain rot”! E daí(?), há de perguntar aquele leitor mais desatento a essas indicações e eleições que, mais parecendo “aperitivos midiáticos”, portanto digestíveis, soam similares ao Oscar e ao Miss Universo. Convenhamos, aquele tipo de evento glamouroso que não serve para avançar um segundo nos ponteiros da existência e, sobretudo, da sobrevivência dos pacatos cidadãos. 

Diria a eles que os eventos sazonais, tipo os citados nas últimas linhas, fazem parte indissociável de nossa famigerada sanha de classificar e louvar as “excelências” humanas, sejam físicas ou da ação criativa Nesse quesito se igualando, guardadas as devidas proporções, a eventos como as Copas do Mundo, as Olimpíadas e outros tantos. 

No caso em específico da palavra/expressão em questão, sua eleição tende a identificar um “status” momentâneo da raça humana. Flagrar uma tendência. A intenção é nomear um dado cultural do momento, por meio da fotografia de um “comportamento coletivo”, uma mancha que seja na marcha civilizatória. Enfim, um dado que nos afeta, individual e coletivamente, com potencial de representar avanço ou retrocesso civilizacional. 

Antes de mais delongas, “brain rot”, a expressão eleita “como a palavra do ano pelo Dicionário Oxford tende a refletir a era digital, ou melhor, o impacto dela nos comportamentos”. Trata-se de uma expressão em inglês que se tornou popular na internet para descrever um estado mental associado ao consumo excessivo de conteúdo digital de baixa qualidade ou irrelevante. 

Mais: traduzida literalmente como "podridão cerebral", a expressão sugere uma deterioração cognitiva ou um embotamento mental causado por esse tipo de consumo.

Devidamente apresentados, espero algum herói questionar se não atravessamos um momento desses. A epidemia do “brain rot” está por aí se expandindo, sendo todos nós, em maior ou menor grau, mais cedo ou mais tarde, contaminados por ela. 

Para ser paciente - e já na enfermaria descobrir que a contraiu - não custa muito. Basta se esbaldar no consumo de “conteúdos superficiais” (vídeos curtos, memes, notícias falsas), estar à “toa na vida” praticando o “doom scrolling” (hábito de rolar infinitamente pelas redes sociais, consumindo notícias negativas e alarmantes) e, finalmente, “excedendo tempo dedicados ao online”.

A expressão se classifica inicialmente apenas como uma tendencia de comportamento, não dispondo uma constatação científica que dê margem a um diagnóstico médico. Como nos conta Mr.Google, trata-se de um “termo informal utilizado para descrever uma experiência subjetiva relacionada ao uso excessivo de tecnologia”. No entanto, afirma-se, os sintomas associados ao "brain rot" podem ter um impacto negativo na saúde mental e no bem-estar geral.  

Entre os principais sintomas da “enfermidade”, destacam-se a dificuldade de concentração e a redução da capacidade de análise. Além disso, aumento da ansiedade, depressão e isolamento social. 

Rendeu matéria de televisão hoje, 14/01/25, a repercussão negativa entre as “celebrities” de todas as periferias a ameaça de desativação dos filtros estéticos das redes sociais. Tanta polvorosa que uma especialista em saúde mental foi convocada para analisar o impacto. Até porque se trata disso mesmo: um fenômeno derivado do uso exagerado e doentio das redes sociais. 

Uma distorção que motiva problemas cognitivos e emocionais. A necessidade urgente de participar, de se embelezar, eliminar pequenos defeitos, consumir o desnecessário, fingir posses, sugerir intimidade com famosos, adotar posicionamentos equivocados sem reflexão e etc, são comportamentos sintomáticos da “brain rot”. É um “mal do século”? Uma sequela forjada pela tecnologia? Um dano colateral?, sabe-se lá. O certo é que anos a frente, vamos viver com a incidência dessa “mania”. Resta medir os custos sociais disso tudo.


por Edson de França 

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quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

Os donos do mundo

 


A
credito que os membros mais “descolados” de minha geração - aqueles que curtiram, mesmo por osmose, a literatura de Erich von Däniken, Hernan Hesse, Revista Planeta, discos voadores aos tragos de um “back bem bolado”, esses últimos nem que fosse olfativamente -, desde logo se acostumaram a pensar em mistérios e “teorias da conspiração”. 

Talvez por vivermos a sombra pestilenta da ditadura, da qual pouco sabia-se da profundeza dos porões, essas ideias encontrassem um campo fertil para se expandir. Talvez como alienação, talvez como “mecanismo de fuga” frente às tímidas desconfianças de que o governo de então não era a superfície garbosa e ufanista demonstrada nos desfiles cívicos de 7 de Setembro. 

A impressão geral é que, para além dos diretores de escola, rezadores de ave-maria, imberbes e empolgados samangos de pré, haviam sempre “hipócritas” de todos os tamanhos “rondando ao redor”. Muito além deles, os “donos do mundo”, encarnadas em sociedades secretas, os organismos multinacionais conspiratórios, as frentes interplanetárias de dominação terrena, a conspiração dos organismos biológicos invasores de corpos e usurpadores da vontade alheia. 

A idade dos “assustados” foi também a era da desconfiança. Penso que, diferente de gerações anteriores, naquela época as ficções científicas, marcadas pelo traço da distopia, se materializaram em imagens de cinema. A ideia e, em muitos casos, a materialização do poder em atos tomados à revelia da opinião pública através do poder de Estado e de corporações foi marcante. 

A frustração com a promessa de “desenvolvimento e progresso” das cidades, indivíduos e populações inteiras também alimentou essa “impressão”. Efetivamente, quanto mais inferiorizado na pirâmide social, mais impactado e totalmente alienado desses processos de poder. Usei a palavra “descolado” no início do texto para indicar uma classe específica de gente: uma que, se não é capaz de fazer uma análise cientificamente elaborada da dinâmica social, sente as antenas tremerem toda vez que a terra geme.   

Particularmente, a ideia de que o mundo teria “donos” manipuladores, sempre dispostos a manietar os cordéis de nós, os marionetes, assim como organismos parasitas de toda ordem prontos a se alimentar da seiva quente direto da jugular sobreviveu. Sobreviveu e, ao longo da jornada, passou a ser identificável, seja pelo abuso do poder psico-atordoante das religiões, por exemplo, ou pelo flagrante desrespeito diário das corporações aos direitos humanos.

 A materialidade dessas impressões esotéricas se fez sentir principalmente pela observação da Mídia, numa leitura livre do conhecimento produzido pelas Ciências da Comunicação. Parece sempre que a mídia concentrava todo o poder dos “donos do mundo”, sendo uma espécie de porta-voz, assessora e, sobretudo, artífice do discurso dos poderosos invisíveis. 

Nesse contexto, as atuais redes sociais, cujos CEO’s não escondem a cara, nem se furtam de apregoar suas “ideologias” para audiência mundial, a ideia de que o mundo tem donos, ou aspirantes sedentos ao posto, se consolida. Os “donos do mundo”, malgrado anunciarem a modernização com suas inovações tecnológicas, sempre que podem atuam para limitar as “transformações sociais” ou retroagir até o status que conceda “segurança” perene a seus empreendimentos. 

Assim, a atração deles por governos de viés autoritário é natural e recorrente. Como qualquer matéria parasitária que se preze, os “ambientes úmidos, de pouca luz e com matéria orgânica em decomposição” são ideais para sua proliferação. Se esse ambiente permite, então, dominar mentes pelo exercício farto da omissão de fatos e controle pela força ou pela sugestão psicológica, então…

Controle social” significa ganho, sendo assim um recurso largamente utilizável. Os “donos do mundo” têm ciência plena disso. A desinformação, a pavimentação de estradas para o exercício da mentira, das versões parciais ou equivocadas e outras artimanhas fazem parte do pacote. Cabe aos “descolados”, os desconfiados militantes de sempre, como antenas da raça, manterem-se captando cada onda reaça que ameace, ao menos no nível comportamental, o Homem. 


por Edson de França   

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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

Como se explica o dinheiro?

 

F
aça essa pergunta a um dono de “fiteiro” e ele lhe dará uma resposta espontaneamente técnica. O parco dinheiro que ele vê e que efetivamente chega em suas mãos, é fruto das horas gastas na manutenção do seu negócio. Minutos dedicados à vigília paciente de espera pelos raros clientes, às compras para manutenção de seu estoque e ao planejamento global para sobrevivência nos dias seguintes. 

Se ele responder “vem do meu suor”, resumiu tudo. Se disser que ele “vem das mãos de gente que, assim como eu, luta de sol a sol para ganhar um mínimo com que atravessar os dias”, deu uma aula de compreensão do estado sócio-econômico da pobre, ou da construção de toda a “riqueza” que há em sua pobreza. Ou mais: da mecânica de circulação do dinheiro nos setores populares. Uma economia gigantesca, porém pulverizada em migalhas.

Quem nasce de baixo, com algum grau de consciência, sabe essas lições de cor. Porque é da vida de pobre ter uma ciência material, empírica, imediata da circulação de seus centavos. Não vai mais fundo - com maiores detalhes, exemplos e explicação científica - porque as fronteiras do mundo do pobre são estreitas. 

A resposta sempre parecerá árida, seca, sem subterfúgios ou romantismo, espantosamente real, pé no chão. Valores como força, coragem, persistência, inteligência, sagacidade e disciplina passam ao largo da resposta num primeiro instante. A dureza da realidade se impõe. A simplicidade, ao rés do chão, explica demais.

Faça a mesma pergunta a um mega empresário, um componente da elite ou a um herdeiro e garanto que não obterás uma resposta tecnicamente satisfatória. Deus, sorte, capacidade individual, mérito ou qualquer outra subjetividade qualquer certamente nortearão a resposta. 

São todas elas recorrências contumazes para quem não sabe, precisa ou se interessa a saber sobre como o dinheiro se materializa e se transmuta em bens, conforto e lazeres. Mesmo que seja raro, se alguém responder que “vem do meu trabalho”, certamente não conhece nada da escassez e da incerteza. Sabe, sim, que seu “esforço” se consolidará em números na conta bancária. 

Nem ao menos há de reconhecer a contribuição daqueles que consomem seus produtos ou a importância daqueles auxiliares que produzem ou revendem. Porque toda cadeia que envolve anônimos, quase sub ou não humanos, sempre há de parecer fruto da magia, imaterial.

Faça essa mesma pergunta a um herdeiro citado na lista da Forbes ou a um dos “sem futuro” da coroa britânica. Poucos dessa estirpe irão realmente ter idéia de onde vem o dinheiro que mantém seus luxos. Uma declaração pública e esclarecedora nesse sentido - com todos os S e R’s nos locais exatos -  equivaleria a uma confissão de crimes, uma crise de loucura e, pior, seriam crucificados como “comunistas” ou “socialistas”. 


por Edson de França

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sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

A sujeição do comentarista


Os comentaristas em geral, geralmente denominados de críticos ou analistas, vivem na corda bamba, ou melhor, no limiar do equívoco e da contradição. A régua que utilizam para embasar seus comentários é torta e viciada. Um sistema métrico baseado em sua própria “altura” e interesses imediatos. Suas crenças, ideologia e status circunstancial exaram no produto final de seus escritos.

Analistas de artes e sociedade em geral e, sobretudo, comentadores políticos padecem desse mal. Uma matéria chamada isenção é o ingrediente mais raro de entrar em suas receitas diárias. O irônico é que se vendem como esclarecedores de bastidores para a opinião pública. 

Talvez por mexer com dimensões práticas da vida em sociedade e instituições, que incluem camadas sobre camadas de interesses, o comentário político sempre será “político”. Assim sendo embute o “medo” genuíno por parte do articulista em pôr em risco seu status pessoal, notadamente do ponto de vista financeiro. 

Nem todos, claro, seguem a orientação e o posicionamento  editorial  da empresa  em que atuam, os independentes, mas, grosso modo, sofrem pressão para se curvar às forças internas e externas que justificam seu ofício. A circunstancialidade determina 

Com isso, diga-se sem medo, que mais que cobrir ou analisar, o “jornalismo opinativo” da política - ao lado do noticioso editado ao gosto do empregador -  ajuda a erguer, estabilizar ou derrubar sistemas locais de poder. Quanto mais provinciana for a produção,  mais imperativa essa tendência. 

Antes e durante o ato solene de produzir suas resenhas, o comentarista aplica sua régua, medindo o impacto e a repercussão de seu escrito. Nesse exercício, a omissão, o exagero, a inversão, a formulação ou a desintegração  de versões são recursos comuns largamente utilizados. Até a coerência é momentânea. A função é por pêlos na face imberbe, nua, da notícia.  Macular a versão mais verdadeira que, afinal, por objetiva demais, costuma não ter graça alguma. 

A sujeição dos comentaristas explica-se, então, pela imposição do “momento”. O comentarista lê e se inspira mais no ambiente capaz de afetar seus interesses imediatos que no conjunto objetivo da obra. Não é difícil flagrar as contradições dos comentaristas ao longo de suas carreiras. Infelizmente, em algum ponto o fazer profissional dos comentadores se confunde com a do político profissional, este último escolado em “jogos de versões” e posicionamentos oportunistas.  


por Edson de França 

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terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Arrisca o povo votar para presidente em

Gusttavo Lima. Com o apelido de Embaixador, o moço é bem capaz de ser bem votado em um pleito presidencial e abiscoitar o cargo. O brasileiro mediano curte ser seduzido pelo bizarro. Conheço gente que de última hora considerou como sinal divino um santinho de artista popular achado na calçada no dia da eleição. Não pensou duas vezes, tascou o voto no iluminado. Não creio ter desperdiçado o voto, cumpriu com louvor seu dever para com a democracia.  

Registre-se, porém, que essa “atormentada alma” sufragou o indigitado sem ouvir uma única proposta. Essa, por mais  irônica que pareça, é nossa atitude mais recorrente. A outra é, depois de ver a “coisa preta”, o gastador de votos passa a medir todos políticos pela régua da mediocridade. Mais um passo e ei-lo a deitar falação em grupos informais, sem influência alguma, sobre os destinos de sua aldeia. Quando não, a ocupar espaços públicos - transportes públicos são ótimos palanques para esses deserdados - com lamúrias e discursos chatos e apocalípticos. 

Depois dessas constatações,  imagine-se um ídolo nacional da envergadura do embaixador - do qual particularmente não conheço os sucessos e a grandiosidade dos shows que atraem multidões de varões e moçoilas xonados na celebridade. Até porque teve multidão, tô fora - sendo candidato para uma plateia acrítica. 

O brasileiro é um ser ciente que vota às pampas em gente que se traveste, para efeito político, da função que ocupou um dia. Cabo Tenório, o “maior inspetor de quarteirão” da música de Jackson do Pandeiro, estaria bem na fita depois que “Balançou a mão, deu murro e bufete/ Tomou canivete, peixeira e facão e “os brabo correram”. Estaria eleito e, com certeza, abrindo as valas do seu partido para “Mata Sete” e outros desavizinhados. G.L e Deolane estariam lá com certeza. 

 

por Edson de França 

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segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

As primeiras do ano

 

 Consigo escrever um texto de final de ano sob a ótica das expectativas. O que pode render continuidades exitosas e aquilo que pode redundar em maçantes e incômodas extensões tóxicas. Em qualquer caso, no centro das acontecências, sempre estará o homem, suas idiossincrasias, suas “orelhas de asno”, sua prepotência, seus descuidos, imprudências e coisas e tal. 

O primeiro dos dias do novo ano, chamado de Confraternização Universal ou Mundial da Paz, é dia de ressaca. Em alguns casos de prolongamento do porre. O dia anterior, entre preparativos e expectativas para a hora da passagem, é um momento de alegria “regada etilicamente” às fartas. Nessas horas, infelizmente, é comum as ocorrências de trânsito. 

As motocicletas, veículos imprescindíveis aos deslocamentos das faixas C’s, D’s e E’s da população, que ano utilizam como hobby ou lazer, abriram, como em outros anos, o fatídico calendário de sinistros. Jovens, com a ousadia que lhes é de direito, costumam ser os principais atores dessa tragédia nacional. Se alguém chega a pensar realmente neste país e na preservação da vida, eis aí uma pauta importante para ser repercutida e figurar ao lado das políticas públicas de base.

Quem pensa em militar na política por causas ridículas como a pauta de costumes, a sexualidade alheia ou a defesa dos ícones maléficos da ditadura, caso os dois neurônios funcionassem e fossem realmente patriotas, abraçariam questões de base como essa. Garanto que, mesmo andando a direita do espectro, granjeariam apoios bem mais sólidos e menos dementes.  

Mas, falando nisso, também começamos o ano sob o signo das “polaridades” improdutivas e da agressividade sem noção. Começamos esse texto pondo o homem e sua idiotia congênita no centro dos acontecimentos e a primeira notícia que lemos neste Dia Mundial da Paz nos diz algo sobre isso. A notícia dava conta da investigação aberta pela Corregedoria da Polícia Cívil de São Paulo sobre o caso da agressão de um policial civil contra a jornalista Natuza Nery. 

Enfim, mais um caso de cidadão “irado” com a situação do país e agente de Estado equivocado que resolve “protestar” com ameaças físicas. Afora a cega paixão política, o infeliz cidadão ainda ostenta a condição de agente de Estado, daqueles crentes de que uma ditadura os poriam em posição privilegiada no cenário nacional. 

Sei que dificilmente irá rolar uma punição severa para o biltre. No máximo, uma suspensão temporária de suas atividades, até que a poeira baixe e ele possa voltar a exercer sua prepotência nas filas de supermercado. Se o indivíduo ameaça um profissional de imprensa, numa abordagem troglodita em que pergunta pelo nome, peita, culpa-a pela “situação” do país e resolve afirmar que pessoas assim como ela deveriam ser aniquiladas, imagine o que faz, no exercício de seu dever, com um cidadão “comum”, 

Em princípio não identifico pistas de sanidade psicológica para o exercício da atividade que ele escolher para exercer. No mínimo, este nobre cidadão se escudou e utilizou o “poder” do cargo que ocupa para entramelar suas ameaças à profissional em questão. Sente-se empoderado. Para mim, ele representa perigo para a força que representa e a população para qual trabalha. Não vou dizer que é um mal elemento, apenas um fruto podre, carcomido e sem noção.  

Agressões gratuitas a profissionais de imprensa, desferidas por Agentes de Estado imbuídos de poderes e armas, são caso de se pensar que instituições e cidadãos com distintivo andamos produzindo - e empoderando - por aí. E olhe que todos eles são submetidos aos testes de sanidade mental. Talvez esteja faltando o exame anti-fanatismo, moral, ético, de civilidade e outros tantinhos. 


por Edson de França 


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