segunda-feira, 13 de abril de 2020

Poema náufrago

Não assisti, 
senti a falta bem depois
Ele já não era material
Vaga lembrança, era,
Na não vida das memórias digitais

Se senti
Se entristeci, digo-te:
só perde para a partida de meus irmãos
E de alguns dias afetados pela gripe

Sei dele integralmente restaurado,
Rindo
Em um lugar outro a que não posso ir.

O poema naufragou
Tragado pela rede.

Restaram-me os destroços,
lascas de breu, pingentes
que compunham a carcaça frágil
Que amei amar
Enquanto paria.

NO MEIO

Fácil é se misturar a essa gente.
Nossa cara é a cara de muitos
Circunspectos, circundantes,
Caminhantes, pérolas, pingentes
Do trem que transporta sonhos,
Frustrações, medo sabe-se lá de quê
Jamais da vida espectadores
So disponibilidade para se jogar 
e se perder pelaí!

(Edson de França)



ERA

Era
Varria, espancava,
Lavava os cômodos de dentro.

Era 
Tão fechada que lhe
Assustava o lá de fora.

Não
Queria olhar, bastava-lhe
O sol que a banhava…

Não 
Abria as janelas, não
sentia na pele o calor?

Para que então  serviam as manhãs?

Eram
Alentos, aconchegos,
Paz, interior.

Eram
Minutos, horas, pequenas
Eternidades, sabor.

Não
Eram desenganos,
Traições mundanas…

Não
Eram signos, sinas
De uma vida fora do aquário.

Para que servem as manhãs traiçoeiras?


Teu tempo é

Teu tempo é hoje

Teu tempo é hoje, companheiro
Esquece a pele perdida
Tua nova idade exige
Uma roupagem menos fake

Não percas tempo
Não de ocupes em consertar os buracos 
De teu esmolambado traje, 
agora é tarde, 

é tarde
e alguns dormem 
nos trilhos do trem
que dizem da história.

Zé sem jeito

Não tem jeito, não, né, Zé
Deixa comigo, aquieto e aceito
Não vou descer ao teu nível
Nem decair a tua provocação
Somos de níveis diferentes, mané
A minha mão não vai se sujar com tua tinta
O teu projeto não empana a minha pinta
Tem jeito não, ne, Zé
De onde falas nunca estive
Nem desejo
Não mandes beijos 
dos andares que possuis
Tua altura se atinge com o barro
E o escarro da classe que pensas
Pertencer
Pode humilhar
Até rir do meu talento
Pois o que trago no meu bisaco
Não te alcança
Trago minha voz
Minha disponibilidade
Generosidade, algum talento
Pra te ensinar 
Te propor algum caminho
Sem pedir nada em troca
Talvez apenas respeitosa Atenção
A minha mão…

Vacilão, Zé

Não mexa no parceiro, chapa
Mal sabes a chapa quente 
Em que estás pisando
Te garanto não conheces nada
Nada, nada, nadica de nada
És um Zé Babaca
E olha de onde eu vim
Tenho respeito pelos zes da Paraíba
Mas vez Nenhuma pelos sobrenomes
Zebedeus, zerruelas, zes migués
Quem nasce para babaca de fé
Numa chega a ser um verdadeiro Zé
Fé comprada na feira de Oitizeiro
Como o três oitão banzeiro
Que Mofi diz adquiriu por lá
É arma, é arma, menos alma
É vestimenta pra covarde
Disparar sem razão.

Corredouro

Cometo poemas
Cometo-me, vou
Arrisco-me no céu
Nada além.

Lanço-me aos infinitos.

Nem poética têm
Não compuseram poemas
Serão névoas, véus, de estrelas de
                                                       ca
                                                           den
                                                                tes.