segunda-feira, 13 de abril de 2020

Teu tempo é

Teu tempo é hoje

Teu tempo é hoje, companheiro
Esquece a pele perdida
Tua nova idade exige
Uma roupagem menos fake

Não percas tempo
Não de ocupes em consertar os buracos 
De teu esmolambado traje, 
agora é tarde, 

é tarde
e alguns dormem 
nos trilhos do trem
que dizem da história.

Zé sem jeito

Não tem jeito, não, né, Zé
Deixa comigo, aquieto e aceito
Não vou descer ao teu nível
Nem decair a tua provocação
Somos de níveis diferentes, mané
A minha mão não vai se sujar com tua tinta
O teu projeto não empana a minha pinta
Tem jeito não, ne, Zé
De onde falas nunca estive
Nem desejo
Não mandes beijos 
dos andares que possuis
Tua altura se atinge com o barro
E o escarro da classe que pensas
Pertencer
Pode humilhar
Até rir do meu talento
Pois o que trago no meu bisaco
Não te alcança
Trago minha voz
Minha disponibilidade
Generosidade, algum talento
Pra te ensinar 
Te propor algum caminho
Sem pedir nada em troca
Talvez apenas respeitosa Atenção
A minha mão…

Vacilão, Zé

Não mexa no parceiro, chapa
Mal sabes a chapa quente 
Em que estás pisando
Te garanto não conheces nada
Nada, nada, nadica de nada
És um Zé Babaca
E olha de onde eu vim
Tenho respeito pelos zes da Paraíba
Mas vez Nenhuma pelos sobrenomes
Zebedeus, zerruelas, zes migués
Quem nasce para babaca de fé
Numa chega a ser um verdadeiro Zé
Fé comprada na feira de Oitizeiro
Como o três oitão banzeiro
Que Mofi diz adquiriu por lá
É arma, é arma, menos alma
É vestimenta pra covarde
Disparar sem razão.

Corredouro

Cometo poemas
Cometo-me, vou
Arrisco-me no céu
Nada além.

Lanço-me aos infinitos.

Nem poética têm
Não compuseram poemas
Serão névoas, véus, de estrelas de
                                                       ca
                                                           den
                                                                tes.

Enquanto insistia

Me fiz poeta em um dia outro
Não sei se escuro ou claro
Se verão, se um inverno nosso
Se com auréola ou tridente 
Se a convite ou por intromissão...
Por apaziguamento ou dúvida

Até hoje não sei se sou poeta
Não sei se o que escrevo é verso
Não sei se compartilho a cama das musas
Sei da minha alma que voeja
Deleita-se em escrever
E alinhava-se nas tessituras
Do que escreve.

Por e muitas vezes erro
*como no início do poema

Mas aí estou eu
Eis-me, gente
Despindo-me
Como um um louco
Santo transeunte.

(Edson de França)

PEQUENO MAR

Afogo-me
Atraído por amores vãos
impossíveis de caber-me
De corpo inteiro. 

Cabem pensares
Pensamentos entrões 
imaginálias.

Entre copos,
Garrafas, mesas,
Olhares circulantes
Afogo ardores.
(Edson de França)

Moraes (uma homenagem)

Ouvi a voz
O chamado aos meninos
O violão tocou-nos.
Nos perdemos
Na sigularidade dos versos.

Voei, formei-me: eram alertas
Para um país que descia a ladeira
Uma gente
Uma sonoridade nativa, uma força,
Trios, fubica,
Fantasias do meu carnaval.

Alegrias pulsantes.
Cadê o trio de dodô?
Cadê o trio de Osmar?
Dodô do céu mandou recado:
"Aplausos para o primeiro cantor".

Sempre guiarás nossas andanças
Pois nunca dizemos adeus,
Nem acreditamos no final.

Vai-se o homem
Incorpora-se ao diapasão do infinito.
Fica a fama, as obras
O recado, 
o legado contínuo
a nos con-formar.

(Edson de França, 13/04/2020)