segunda-feira, 13 de abril de 2020

PEQUENO MAR

Afogo-me
Atraído por amores vãos
impossíveis de caber-me
De corpo inteiro. 

Cabem pensares
Pensamentos entrões 
imaginálias.

Entre copos,
Garrafas, mesas,
Olhares circulantes
Afogo ardores.
(Edson de França)

Moraes (uma homenagem)

Ouvi a voz
O chamado aos meninos
O violão tocou-nos.
Nos perdemos
Na sigularidade dos versos.

Voei, formei-me: eram alertas
Para um país que descia a ladeira
Uma gente
Uma sonoridade nativa, uma força,
Trios, fubica,
Fantasias do meu carnaval.

Alegrias pulsantes.
Cadê o trio de dodô?
Cadê o trio de Osmar?
Dodô do céu mandou recado:
"Aplausos para o primeiro cantor".

Sempre guiarás nossas andanças
Pois nunca dizemos adeus,
Nem acreditamos no final.

Vai-se o homem
Incorpora-se ao diapasão do infinito.
Fica a fama, as obras
O recado, 
o legado contínuo
a nos con-formar.

(Edson de França, 13/04/2020)

sábado, 11 de abril de 2020

OLHADELA

Tramei um poema pra tu,
Saibas.

Ficou tão, 
mas tão passional
Que o rasguei,
atirei na nuvem
Deixei-o por lá, voltei

Irei ensaiar outras tramas
Com as palavras que atiras
Com teu sugestivo andar.

(Edson de França)

quinta-feira, 9 de abril de 2020

A praça

O poeta cruzou-a a passos largos.
Largadão, camiseta descolada, jeans roto
Não levava consigo histórico, histeria de flor
Trotava por ânsia de vida.
Nenhuma dor a pesar sobre as costas
Nem dissabor para expor-se em canção
Trotava garboso por ânsia de vida
Cavalo novo com todos os dentes…
Sois nasciam e se punham 
Alvoreceres, ocados, acasos…
Crianças brincavam aos olhos
Impavidos da praça…
Ocasionais situações burlescas,
O desabrochar dos pequenos mundos
Flores, frutos, estações perdidas

Arqueado o homem lia
Ria da lição do livro
Não reparava para o peso as costas
Colhia poesia nas flores,
Rostos das pessoas,
Escrevia, poeta,
Não dizia de si.

Sendo

Mando lembranças reais 
para o homem que era eu 
há um ano atrás…

Atrasado, fora do tempo
Traçava poemas e voos
Vous, intentos…

Nao sei em que lugar,
situacão. Certamente   
desfazia-me de uma velha pele.

Pele que não me deixou.
Veste-me com as mesmas
Feridas de ontem

:Cada vez mais rasas.

(Edson de França)

AMO- TE

 Amo-te
Cá dentro 
Não ouso explicitar.

Amo-te
São tantos em ti
Não sei nem como contornar.

Amo-te
Velejo
És marejo ao caminhar.

Amo-te
Se me perder (e é fácil)
Deus me livre de pretender (um dia)
Me achar.

(Edson de França)

MULHER, SEMPRE

  • "Eu me pertenço", gritou
Para quem ousasse ouvir.
Negra, mãe, serviçal
De uma casa burguesa qualquer

Nobreza trazia na postura,
Ereta, ônibus repleto, cheio
Era segunda-feira
Dia de recomeçar.

No fim da lida, 
outra vez casa sofrida
O marido, os filhos, a vida
Dura de se levar …

Quedada, submissa, clamava
  • "Eu me pertenço", gritou
Ouvidos insensíveis da rua.

(Edson de França)