sexta-feira, 7 de junho de 2019

Conhecimento e arrogância





Todos nós buscamos por necessidade vital o conhecimento. Conhecer um pouco que seja sobre algo é fundamental para traçar estratégias de sobrevivência em um mundo que impõem muitas condições adversas. Mas como tudo o mais na vida, essa busca não é igualitária nem paritária.
Alguns têm mais sede, outros se contentam com o superficial para elaborar opiniões canhestras ou sentir-se parte do mundo. Os mais afoitos desejam ir além, conhecer profundamente uma área especifica ou abarcar uma carga de conhecimento extensa e variada em assuntos diversos. Arriscando mergulhos para além das interpretações triviais e simplistas. 
Para os nosso senso comum esses últimos se tornariam os “gênios da raça”, os outros, uma sub-espécie de homo sapiens inadaptáveis às condições de sobrevivência do planeta. Dentre o grupo de gênios, porém, ainda haveria gradações. Uns virariam enciclopédias andantes, outros intelectuais e, em um nível mais avançado, alguns atingiriam a condição de sábios.
Em todos os casos, todavia, a expansão da inteligência comum e a argucia de cada uma delas, per si, é que definiriam, enfim, os padrões e a “categoria” dos pensantes.
Um dado que chama a atenção,contudo, é a tentação de, sendo um portador de alguns conhecimentos, tomar-se de um poder imaginário. Erigir para si mesmo uma aura de superioridade sobre os, diríamos, pobres mortais que por alguma razão não conseguem atingir nem dominar a montanha de conhecimentos acumulados. Esse comportamento é típico de quem virou enciclopédico, com algum polimento aprendeu a fazer pose de intelectual e, jamais aprendeu a ser sábio.
Se assim fosse, saberiam que a simples posse do conhecimento (que convenhamos, é sempre parcial, limitado e um tanto quanto subjetivo) não torna ninguém superior e que a humildade é o elemento básico do homem que realmente conhece. Só ele tem a capacidade de se por acima do seu próprio conhecimento (melhor abaixo, pelos lados e por dentro dele), percebendo suas imperfeições e, sobretudo, limitações.


por Edson de França  




quinta-feira, 6 de junho de 2019

Enquanto flanava entre os pássaros



Uso óculos para longe. Pra perto, bastam- me os olhos nus. Decifro letras, leio rostos a poucos passos de mim. De longe, sem óculos, sombras. Teu rosto se perde em neblina. Perdoa-me, se entenderes, que não sei quem és tu.
#02#
Para quem não se entorpece fácil, a política e o esporte são antros. Terreno em que se deve pisar com cautela. Torcemos por pura idiotia. Somos movidos por um gene leso, acéfalo, que nos faz crédulos. Quando essa idiotia pessoal tende a se tornar histeria coletiva é hora de baixar o app da criticidade.
#03#
Todo escroque, dos mais bem sucedidos à raia miúda, pensa ter um pacto direto com o velho Deus. Enquanto não estão escarnecendo, preconceituando, visando os bolsos ou abusando da boa vontade de algum incauto, estão rezando para o invisível, em verdade, clamando o inferno pro outro.
#04#
É que os dias nos exigem. Agilidades, eficiências e caras felizes. Inconciliáveis, digo eu. Naturezas distintas, tons que não se harmonizam. Não dá pra ser de tudo com a placidez das lagartixas. Vez ou outra, ouvirás dizer: "Vai te foder. Tu e o cotidiano!"
#05#
Escalaram meu nome para um grupo do zap sobre futebol. Por lá, como em outros grupos que participo entrei mudo, permaneço calado. Por lá, sou espectador. Não dá para atuar, como convém a um futebolista cético, junto à massa insana que, na vida, contenta-se em ser apenas torcedor.
#06#
Quando o indivíduo traduz a reação ante um forte impacto é sempre algo que vem de dentro ou uma reação física. A dor, a palpitação, a paúra, o farnesim, a alegria, o susto. Dizer que ficou "branco", sei não, é uma frescura a ser estudada!
#07#
Vi uma mensagem de um pastor dizendo que recebeu uma ligação de Cristo é que, na hora, ficou branco. Fiquei na dúvida. Ele recebeu uma ligação ou passou por um desdobramento para ver-se assim descolorido!
#08#
Penso que em tempo nenhum foi tão necessário estar a par das causas que afligem a humanidade e, se possível, ter um olhar especial para várias delas. Não podemos ter causa de estimação. É preciso, mais que tudo, sentir as urgências da sociedade global. Questão de sobrevivência.
#09#
A televisão provinciana sobrevive à base de lambaios forjados nas escolas do radialismo de porta de mercearia. Os stars da área não tem ideia alguma do que seja jornalismo e não passam de “opinistas” (alguns alpinistas) mal preparados e, sobretudo, mal intencionados.
#10#
Mantenho a mente ligada no mundo livre. Toda cor e toda forma de amor valem a pena dentro do espectro vivencial. A vida, companheiro, é horrivelmente curta para tanta aperriação. Pena de quem, na vida, escolheu ser decorador ou arrumador de arquivos vivos e dinâmicos, nosotros, enquanto o mundo gira e nos consome. Vai viver, Zerroela, e deixa os outros curtirem sua loucura particular.

por Edson de França



quarta-feira, 5 de junho de 2019

Os cães miúdos mostram sua cara



      Comecemos pelo vocabulário básico. Cães miúdos são diabos reles. São desses que nascem por qualquer descuido, proliferam feito praga e sobrevivem à base de qualquer oportunidade. Desprezíveis, numa palavra.
Cães miúdos nascem e vivem como ervas. Não dessas que dão “baratos totais” ou curam tosse, não; são ervas daninhas que se espalham graças à estúpida morte do capim. São sanguessugas, vamps, parasitariamente mamando e matando incautos hospedeiros.
Travei contato com vários da espécie e já fui, “pense” (detesto desse cacoete verbal), convidado e intimado a fazer parte da legião. Pergunte-me se fui¿ Estou escrevendo aqui para não ser parcamente lido; ao lado dos cães miúdos nem precisaria escrever.
Os cães miúdos, dentro do seu expediente, providenciariam uma blague para me bajular, jurando uma intimidade profunda com o apelo ventilado em meus inexistentes textos.
Insistirei sempre na manufatura do texto, na defesa do espaço crônico que faculta ao escrevinhador um mínimo de autonomia. Ela é a lupa que permite flagrar o cão miúdo em sua mais expressiva pantomima. A oração que permite afastar os cães de toda ordem.
Os cães miúdos estão por aí travestidos em jogadores de pelada, operários medianos, grumetes e servidores temporariamente compondo a base do serviço público ou ASPONES de um secretario qualquer. Tem por expediente ofícios caídos no anedotário popular. São os baba-ovos, cheleléus, puxa-sacos, chaleiras, bajuladores, lisonjeadores, mantegueiros e lambe botas.
Quando os anjinhos do tempo em que vivemos saem às ruas e pedem intervenção militar, volta da ditadura e assombrices parecidas nada mais querem que seus lugares de cães miúdos num possível novo sistema. Uma legião de dedos duros iria, caso a turma da pesada assumisse o poder, se espalhar por aí. 
A democracia é o inferno dos cães miúdos porque nelas eles não se criam, dito melhor, ate procriam feito peste, mas são abortados instantaneamente. Aos primeiros voos, não conseguem camuflar a desfaçatez, o oportunismo e a canastrice de suas ambições.
Os cães miúdos necessitam de ambientes que lhes facultem poderes e não se lhes questionem, mesmo nas decisões mais estapafúrdias.
O cão miúdo quer, ao final, foder alguém em nome de seu status. O cão miúdo que aqui evoco está bem retratado no filme Ojuara – O homem que desafiou o diabo (Brasil, 2017). Uma ser que pode até ter uma personalidade e uma aparência sociável mas, ao fundo, são compostos de pedaços desconexos que jamais se juntarão numa fôrma harmônica, num comportamento social digno e mentalidade aceitável.

Por Edson de França

terça-feira, 4 de junho de 2019

O cronista quando pássaro



A poesia é a asa esquerda/ da liberdade que se deseja/ É só uma forma andeja, bissexta/ Que a todos julga encantar.

#2#

A pessoa que se dedica apenas a seus projetos de pessoais e aos cumprimento das obrigações sociais jamais entenderá o quê da utopia e do idealismo. É o caso do professor que vê (viu) na educação um vetor para sua ascensão particular e não como plano de transformação da sociedade.

#3#

Encanta-me a ideia da posse de um automóvel - o cavalo de plástico, ferro fundido e vidro - estar associado ao ideal de liberdade. Os publicitários e marketeiros não conseguiram traçar alusão melhor, fora das daninhas de luxo, a potência, a virilidade e o bom gosto.

#4#

Encanta-me mais ainda é que a liberdade facultada pela posse de um auto é física e psicológica. Duas dimensões que dão prazer. Contudo, essa sensação, tal qual prazeres outros, torna-se tênue e esvanece quando as condições financeiras e as imposições legais afiam a lâmina da guilhotina.
#5#

Para quem compra a mão de obra, mesmo pagando barato, esta lhes deve labor, dedicação, produtividade e obediência. São múltiplas as exigências para quem acredita piamente que está concedendo um favor e realizando um ato extremo de humanismo e piedade cristã.

#6#

Amigos de infância que viraram juízes. Pândegos da universidade hoje são advogados. Respeito a classe, mas não transito bem com agentes do direito. Desconfio que a maioria, como fiéis usam a bíblia, fazem uso das tábuas dos códigos para exercitar seus pré-conceitos e egotrips.

#7#

Pessoas dramáticas tendem a inverter discursos e situações. Assim atitudes covardes e mesquinhas podem naturalmente serem impostas como sinal de força e aguerrimento. Sinto muito, mas é assim que consumo pessoas e um certo país sulamericano. Por una cabeza.

#8#

Impressionante como no brasil as opiniões verdadeiramente equilibradas não recebem muito crédito. Prefere-se, por pura e preguiçosa comodidade, a voz dos "sensacionalistas" e parcionalistas da opinião. Tristes trópicos.
#9#

Um historiador e, dizem, professor, que tira onda de colunista na mídia. Star do colunismo politico mas, de vero, um embuste como todo o produto que, fabricado em série, almeja consumo rápido por incautos consumidores e, ademais, usou-se mão de obra barata para sua confecção.

#10#

Há tempos coleciono (de memória, claro) depoimentos sobre o mal comportamento dos brasileiros mundo a fora. Analfabetos e pobres não atravessam fronteiras. Pelas estranjas circula o "melhor" que o país pode produzir em termos de formação e posses. Estamos bem mal na fita.

por Edson França

Pios de passarinho molhado

Não sei se verei a próxima copa. 2022 prevê o calendário. Algum hecatombe mundial pode inviabiliza-la. Algum mal súbito pode fechar-me os olhos. No fim, tudo é incerto como os lances de um par de bozós!
#2#
Brasileiros, a copa acabou mas o sonho continua em brasa. Voltem a ler o livro, ver o filme, apreciar o poema; mesmo de escritores, cineastas e poetas menores. Voltem! Para isso há tempo, prorrogação e penalidades infinitas. Ainda lembram da página ou a cena em que os abandonastes?
#3#
Havia um sonho. Sonhos são quimeras. Bolhas de sabão que flutuam. Inteiramente frágeis. Naturalmente suscetíveis à tentação das agulhas, aos inesperados serpenteios do vento. Explodem. Depois, restam perguntas: para onde foi? O que farei? … Criem-se novas bolhas!
#4#
Li uma postagem sobre os podres de algumas personalidades que figuram na história humana como santas, revolucionarias, geniais, sensíveis e heróicas. Nada daquilo me surpreende. Foram humanos; essa forma errática em permanente (des) construção.
#5#
Evito paixões políticas. Procuro pautar-me por coerências políticas. Mesmo um antagonista aberto de minhas convicções ideológicas pode passar um governo inteiro sem eu nem reparar nas fuças dele: bastam-me as ações que beneficiem a maioria.
#6#
A Paraíba (ou será todo o país) sofre da síndrome do atraso. Apega-se tanto ao passado que pensa eleger um candidato cuja plataforma de gestão para a cultura é a ressurreição da Festa das Hortênsias. Gostava da festa, mas sinceramente…
#7#
Os jornalistas, sobretudo os que abusam da opinião mostram-se contraditórios em seus princípios. Agem como hienas políticas. Escarneiam os mais frágeis, cercam os poderosos para comerem os restos e só usam cruelmente da opinião quando essa não fere os seus interesses.
#8#
Os cabelos da juventude continuam rebeldes. Mais estilizados, podemos dizer. Só que os cuidados e o design demonstram mais conservadorismo que algum resquício de rebeldia que vá afrontar os costumes ou o sistema. Em verdade o Hair de ontem pode ser traduzido como RÉ. …de retrogrado mesmo, visse.
Por Edson de França – edsondefranca@yahoo.com.br