Constituímos
um país relativamente jovem. Os 514 anos que contabilizamos parecem, ainda, apenas
um rascunho do país que poderíamos ser. Um desenho de criança não seria tão
tosco. A agravante é que nos rabiscos da criança de fraldas ainda há certa
graça. Nos nossos passos civilizatórios há desorganização e uma tendência grave
a quadros irreversíveis de anencefalia de alto a baixo.
Não sou
capaz de pesar até que ponto evoluímos como povo e como sociedade, mas sinto de
perto o quanto deixamos de avançar e, também, o quanto parecemos regredir.
Uma historia séria do Brasil
poderia nos revelar o tanto quanto andamos queimando etapas, relegando passos
importantes e negligenciando experiências bem sucedidas que poderiam ter
continuidade. Em nossas crises de autocritica, creditamos todos os nossos
desarranjos a nossa pouca idade, como se apenas isso fosse o responsável maior
pela nossa mentalidade, digamos, limitada e propensa à mesquinhez.
Somos um
país onde, ainda, cultua-se um papel pendurado na parede e uma arrasadora festa
de formatura muito mais que uma formação de fato. Não seria, claro, uma
aberração gritante, se fossem casos isolados ou comportamentos
individualizados. Mas nos surpreendemos sempre com a repetição em massa dessa
conduta.
Parece ser mais importante
dar-se a conhecer ao high society,
que ter consciência do papel social a ser desempenhado pelo profissional
formado.
Somos um país onde calouros
de universidade, por farra, promovem sessões de humilhação e divertimentos
homicidas. Onde estudantes de medicina, por molecagem, chamam o SAMU e roubam a
chave da viatura (http://rederecord.r7.com/video/estudantes-de-medicina-roubam-chave-de-ambulancia-durante-festa-em-minas-gerais-5519f9260cf26c8c7f56092a/).
Um país, onde ao que parece,
a medicina e outras formações de base servem apenas, salvo raras e bravíssimas
exceções, como green card para o grand monde.
Somos um país onde certa
elite adora a Europa, vendo naquele continente a excelência da cultura e do
pensamento. Mas, muitos vauchers depois,
um certo ar de superioridade e egoísmo, contribui para que nada do que foi
visto e aprendido por lá influencie mudanças de comportamento. Ou, no mínimo,
ações públicas que redundem em melhorias para a coletividade.
O choque de cultura e o
lustro geram espanto e impressão de intelligentsia
apurada, mas ao que parece se limita a isso.
Se pensarmos este país como
possibilidade teremos que querer, sem reservas, que cada vez mais pessoas
tenham acesso real e pleno a condições de formação e trânsito cultural. Talvez
só aumentando o exército de formados, promovamos realmente a depuração e a
excelência das cabeças pensantes e proativas.
Creio que uma Europa (idolatrada,
salve, salve!) não se fez com poucas páginas produzidas, nem com a preguiça
mental para devorá-las. Muito menos com elitização egoísta do conhecimento. Lastro
cultural e maturidade intelectual devem ser construídos pelo empenho e pela
sensibilidade teórico-prática de adquirir conhecimento como bem imaterial, para
logo em seguida pô-lo em contato e a serviço do chão nativo da
pátria mãe. Sem maneirismos ou egotrips.
por Edson de França