Tenho escrito minha história sem lápis. Não uso da palavra escrita. Há
tempos também esqueci os vocábulos que me permitiam interlóquios. Narro meus
passos, escrevo, com a insistência dos meus pés em prosseguir. “Prá onde vais¿”
– pergunta-me assaz o vento, a ave agourenta, o curioso. Respondo por dentro,
só de birra – “Aonde a palma dos pés levar!”. Minha passada chora com o chão,
imprime marcas. Minha história. Siga-me. Quando paro, permito ao mundo
onomatopaicas bizarras, palavras rotas, expressões podres. Quem me ouve
rsrsrsrsr se dividem em opiniões. Alguns loucos me lêem gênio; religiosos, a encarnação
decadente de um avatar. Os comuns como bêbado de soleira de bar. Digo-lhes, sem
abrir-lhes os olhos. “Sou vocês”, e saio. A estrada um dia há de me absolver.
Só ela...