terça-feira, 30 de setembro de 2008

Sorrisos (poema)

apenas rabiscos dos teus lábios
giz
nao são tantos, nem tão plenos
para compor um colar de faz-de-contas

Dão um bom pingente, isso sim
(original, digamos)
presente da vida para deleite meu

pingo de mel
que posso fruir, se quiser
a hora que bem entender

quesses fragmentos gentis
jogados ao léu
nao pertendem a ninguem:
(nem a ti que os disparas,
por inconsequente;
nem a minha poesia tarda)

Vou catando enquanto passeias
e monto, qual dedicado artesão,
um rosário fatal de imagenzinhas
zinhas, instantâneas
e é só.

Os dentes do sol (poema)

para Larissa Costa

é do traço infantil
o solzinho que surge rindo
no canto da página.
é um meio astro,
coadjuvante apenas,
num reino de casinhas vazadas,
borboletas cor-de-rosa
e papais e mamães definidos
mas uma luzinha arteira se impõe
e o rei astro- rei brilha
mostrando a todos seu riso de puro ouro.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Lugar

onde se pisa
para onde se olha
onde se penetra
enregelando colunas cervicais

onde se beija
onde se cospe
onde desmineraliza-se
onde as carnes são azuis,
abissais

onde se toca
(soliloquiuns onanis)
onde se ouve falar
não se sabe d'onde

onde as vezes cala-se
as dores dos amores findos
onde chora-se pelos ancestrais

onde se briga
onde se encarnece
devora-se a carne dos temporais

onde se desanda a rir
onde você esporra
e, só depois, goza.