Fiquemos com o Borges por hoje:
"Um homem se propõe a tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos provoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". Jorge Luis Borges, in O Fazedor, 1984, p. 102
terça-feira, 29 de maio de 2007
sábado, 19 de maio de 2007
Solidão de bares (poema)
Esculturas acidentais de gelo
cópula, líquido
onde a mão humana não ousa,
nem de língua...
corpo que tomba, copos dançantes,
visão que turva,
e as gargantas enregelando.
cópula, líquido
onde a mão humana não ousa,
nem de língua...
corpo que tomba, copos dançantes,
visão que turva,
e as gargantas enregelando.
Legado (poema)
O brasão da família é a pele
marcada pelos ferros em brasa,
pelos castigos e pelo sol
tatuagens da destribalização.
marcada pelos ferros em brasa,
pelos castigos e pelo sol
tatuagens da destribalização.
sexta-feira, 11 de maio de 2007
Uma dança (poema)
Eis o fogo morto, morno
De um tempo outro,
um ainda ontem,
um outrem
desenhado a mão e pés,
passadas
esculturimagens.
O manuseio de instantes, intenções
Régua, compasso
Rédeas curtas da palavra,
Economia de atos
Passos contidos de dança pagã,
contenção
medos no respirar.
Sim, restava o salão, o palavrear,
outros pares,
orquestra urbana,
as excrecências comezinhas.
Permanecia vivo o êmbolo,
A vertigem,
as poções do inexprimível
régios pingos do indelével.
Notas baças,
o peso do ar.
E ainda a presença
o olhar, o olhar.
De um tempo outro,
um ainda ontem,
um outrem
desenhado a mão e pés,
passadas
esculturimagens.
O manuseio de instantes, intenções
Régua, compasso
Rédeas curtas da palavra,
Economia de atos
Passos contidos de dança pagã,
contenção
medos no respirar.
Sim, restava o salão, o palavrear,
outros pares,
orquestra urbana,
as excrecências comezinhas.
Permanecia vivo o êmbolo,
A vertigem,
as poções do inexprimível
régios pingos do indelével.
Notas baças,
o peso do ar.
E ainda a presença
o olhar, o olhar.
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Prá não dizer que nao falei do Bento...
O Bento está na área. Chegou ontem. Seja bem vindo, sua Santidade. (O Santidade é utilizado aqui como simples ato de retórica e atendimento as normas de utilização dos pronomes de tratamento, nada mais). Não vamos discutir aqui (nem agora) os senões que seu histórico pessoal congrega, nem a história semi-secreta dos bastidores pecaminosos da instituição papal e eclesiástica. Coisas que a História, se ainda lhe restar coragem e ainda que tardiamente, há de escarafunchar um dia. Não custa nada contudo, por hora, especularmos sobre os objetivos algo inconfessos de sua presença por essas bandas selvagens, de sem almas, miscigenados, lascivos e miseráveis. Fatos que não são levados as praças, nem chegam a opinião pública pelas vias, digamos, midiáticas, a arena de discussão pós-moderna. A TV, a seu modo, trabalhou intensa e interpretativamente o fato, porém, após uma série de injeções programadas sobre algumas futilidades dos preparativos (enxovais, decoração de aposentos etc.) para a chegada do homem, ela mais fez o papel de arauto na conquista de almas e reforço no resgate da debilitada fé dos já descrentes que qualquer outra coisa. Enquanto as ações dos Papas, como chefes políticos, tem uma virulência impressionante nos destinos de povos e nações, seus seguidores são convocados a esperar um amanhã que há de cair do céu. Cada vez mais improvável.
segunda-feira, 7 de maio de 2007
Catar feijão
O poeta João Cabral de Melo Neto atentou para a nossa posição de galos "tecendo manhãs" e descobriu que "catar feijão se conjuga com escrever". As mãos de D. Zefinha, minha mãe, catando feijão pela vida afora, enfrentando as labutas, carregando filhos e ensinando-os, poeticamente, a viver, ler e escrever só fez confirmar a noção do poeta: escrever se conjuga com catar feijão. Escrever nosso caminho pela vida também é catar feijão. Joga-se no alguidar todos os grãos e lança-se fora o que boiar.
terça-feira, 1 de maio de 2007
Tempo da bolha de sabão (poema)
Tempo, tempo, tempo!
O que me deves? Nada?
O que realmente me dás
Ó tempo de lamúrias e lantejoulas?
Em que precipícios te beijo, ó tempo?
Em que esquinas, por entre as pálpebras, me escapas?
Talvez, talvez, talvez,
Calejado tempo,
Eu é que deva a ti.
Devo a ti o medo...
da morte, do principiar, do dessemelhante...
Medo que já não devo ter,
nem requisito o direito de domá-lo.
Devo a ti um minuto intacto do meu dia inútil.
Quem sabe, a ti, deva um segundo
um daqueles bem dispensáveis
, só ele, mais nada, de atenção
às tuas fanfarronices...
Penso, a ti, deva essa bolha
em suspensão, animada e breve.
No mais, isso aqui é só um olhar de criança
O que me deves? Nada?
O que realmente me dás
Ó tempo de lamúrias e lantejoulas?
Em que precipícios te beijo, ó tempo?
Em que esquinas, por entre as pálpebras, me escapas?
Talvez, talvez, talvez,
Calejado tempo,
Eu é que deva a ti.
Devo a ti o medo...
da morte, do principiar, do dessemelhante...
Medo que já não devo ter,
nem requisito o direito de domá-lo.
Devo a ti um minuto intacto do meu dia inútil.
Quem sabe, a ti, deva um segundo
um daqueles bem dispensáveis
, só ele, mais nada, de atenção
às tuas fanfarronices...
Penso, a ti, deva essa bolha
em suspensão, animada e breve.
No mais, isso aqui é só um olhar de criança
Invisíveis e transparentes
Aprendemos a cada dia alguma coisa nova. Isso é meta cotidiana de quem aceitou a “indignação” como filosofia e pedagogia de vida. Para cultivar a natureza aprendiz e, quiçá, para ensinar. Aprendi hoje com Mariana Felinto (Caros Amigos, n.121, abr/2007) o triste e neologísmico verbo "auto-sabotar". Uma auto-sabotagem social de jovens que largam a possibilidade que o estudo ainda poderia permitir, para render-se ao crime (pela oferta de facilidade), a gravidez precoce (pela falta de análise do que isso representa de atraso na vida) e ao telemarketing (pela promessa de emprego, oficiallizado, fácil). Todos os caminhos mostram-se espinhosos e falsos. Levam-nos, sem dó, à sub-vida, a invisibilidade e a transparência...
"Chapas" transparentes
Leio matéria do amigo, ex-aluno e irmão, Murilo Santos (mentor do jornal Cotidiano), e gosto quando ele qualifica os “chapas” do mercado de Patos de “transparentes”. Os “não-vistos”, os não percebidos, os que, mesmo prestando um serviço importante para a vida da comunidade, não recebem a atenção ou o respeito devido. Na melhor das hipóteses são tachados de vagabundos, inúteis etc.. Os “chapeados”, se é-nos permitido tratar sua situação como felicidade, tem o mérito de uma existência real, perceptível. Representam um “monumento vivo” e andante, a dureza da vida, a incompreensão humana e a capacidade egoísta de invisibilizar o semelhante que todos nós somos portadores. No mínimo, uma denúncia.
Transparentes da nova era
A vida moderna está tratando de criar outros “invisíveis” ou “transparentes”, sob a aparência de trabalhadores da "nova era". A escritora Mariana Felinto nos põe frente a frente com alguns invisíveis contemporâneos: os operadores de telemarketing. Esses, infelizmente, na maioria jovens, são realmente invisíveis. Levados pela necessidade, são tragados pelos braços espoliadores das corporações inatingíveis e compõe o exercito da escravidão pós-moderna. Aceitos profusamente pelo mercado, que desconta até a sua fealdade, eles findam presos às armadilhas da máquina de aniquilamento de ascensões sociais. Na era da virtualidade, a indignação tem que ir além...
Invisibilidade by modernidade
“O telemarketing vem mesmo operando um verdadeiro “milagre” de recrutamento de jovens entre as classes baixas. E, como é tudo impessoal ao telefone do jovem-máquina amestrado no arremedo, como ninguém vê ninguém, o telemarketing conseguiu inclusive a façanha de solucionar o problema da “boa aparência” e do preconceito que operam contra jovens pobres que procuram emprego. O telemarketing aceita com facilidade negros, gays, gordos etc. pelo simples fato de poder ocultá-los da sociedade!” Mariana Felinto (Caros Amigos, n.121, abr/2007)
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