sábado, 15 de dezembro de 2007

Nós

Harmonia.
Cores que se fundem.
Cordas, nós.
Sons, uníssonos.
Diálogo.
Sensibilidade.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Nós

Nós somos só os nós
que os alheios não desatam

se tentam quebram unhas,
garras, perdem a pose;

nós que quer dizer desafio, enigma
quer dizer também problema, confusão, embaraço

nós de corda, de marinheiros
não tementes ao mar voraz

nós de princípio, de afins
nós de voz, engasgo,
nós de fins de tardes e noites

sábado, 10 de novembro de 2007

Manga (poema recauchutado)

Com ares de malandro
Desço a rua dos sabores desnudo, descalço
vou improvisando um assobio sem graça
Estiro o olho ao céu da passante, e ela,
mais pachola que eu
nem reparou no meu tropeço
na minha camisa amarelo manga
na minha estatura de poeta
nem na nuvem que nos diz que vai chover
e a nuvem tampa o céu assim
como fecha os olhos para esse desencontro.

(acordo rindo de besta com os dentes ainda dormentes)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Manga (poema)

Com ares de pachola
Desço a rua dos sabores
desnudo, descalço
improvisando um assobio sem graça
Estiro o olho ao céu da passante e
ela, mais pachola que nem eu
nem reparou no meu tropeço
minha camisa amarelo manga
minha estatura de poeta
nem na nuvem que nos diz que pode chover
e a nuvem tampa o céu
como fecha os olhos para esse desencontro.

(acordo ainda rindo de besta
com primavera entre os dentes)

sábado, 6 de outubro de 2007

Uma (poema)

A mulher do sonho é leve
distância de olho sonhar estrela
Numa noite de ser tão

A menina de sonhar é ninfa
Nuvem de pétalas róseas, flor
De umamanhã inimaginada.

O instante vivido é breve
(de antever, de ocaso)
Visão de camponês, paz de gado.

Um doce inebriar de música
um encontar bem daqui
Das cercanias dos quereres.

pise nos versos do dirceu qualquer
Como convém a uma mulher
Da idade que te acolhe.

sábado, 29 de setembro de 2007

poema

embarulho tudo:
os nadas
os ninguéns
da fala desprezam significâncias

sobre o ouvido
a fala
o embarulho,
o arrulho
de um ponto de paz
imperfeito de sentido e sentidos.

o encontro marcado
o ponto,
de pronto
mais uma aula, um cartucho
um disparo
fresta
para um momento mágico.

Baudeleriando II - poema

a un passant
dizia do tempo
das tramas do queviria
buscamos, insones,
nas brumas do tempo nosso
a passante que nos definiria.

Delirium -poema

a solidão é nosso estado natural
(mesmo em companhia)
nem paraíba, nem ceará
bremen, caicó, madagascar
somos o ocidente de um território único,
algo anódino
por onde unicórnios, lhamas
zibelinas e percevejos
compõem o território do delírio, amiúde,
sabiamente alheios a nossa presença.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

De volta, meu brasil oreliano!

A Volta do Regresso

Ó pátria amada, Ó Brasil do meu Brasil
Minha família e também meus conterrâneos
Eu gosto porque foi aqui onde eu nasci
Terra querida
Meu Brasil aureliano
Nós fumo e viemo
E até que demoremo
Não fiquemo por que se lembremo
Da terra que nós abandonemo
Agora que já voltemo
Vamo abraçar a quem nós desprezemo
E salve, salve: amém da pátria
Meu Brasil
Ó terra amada que nós nunca se esquecemo.

Essa patriótica pagina musical* vai para a minha meia duzia (tenho cá minhas dúvidas se o número deles atinge essa expressiva minoria) de leitores.

* Essa música pode ser ouvida e reouvida nas vozes do esquecido coroné Ludugero e, também, na do afiadíssimo Falcão.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

post scriptum (poema)

Talvez
depois de dois mãrratãs
noviorque fique chata
e eu
prefira estar em Palmas.

terça-feira, 29 de maio de 2007

Fiquemos com o Borges por hoje:

"Um homem se propõe a tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos provoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas, de baías, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto". Jorge Luis Borges, in O Fazedor, 1984, p. 102

sábado, 19 de maio de 2007

Solidão de bares (poema)

Esculturas acidentais de gelo
cópula, líquido
onde a mão humana não ousa,
nem de língua...
corpo que tomba, copos dançantes,
visão que turva,
e as gargantas enregelando.

Legado (poema)

O brasão da família é a pele
marcada pelos ferros em brasa,
pelos castigos e pelo sol
tatuagens da destribalização.

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Uma dança (poema)

Eis o fogo morto, morno
De um tempo outro,
um ainda ontem,
um outrem
desenhado a mão e pés,
passadas
esculturimagens.

O manuseio de instantes, intenções
Régua, compasso
Rédeas curtas da palavra,
Economia de atos
Passos contidos de dança pagã,
contenção
medos no respirar.

Sim, restava o salão, o palavrear,
outros pares,
orquestra urbana,
as excrecências comezinhas.

Permanecia vivo o êmbolo,
A vertigem,
as poções do inexprimível
régios pingos do indelével.

Notas baças,
o peso do ar.
E ainda a presença
o olhar, o olhar.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Prá não dizer que nao falei do Bento...

O Bento está na área. Chegou ontem. Seja bem vindo, sua Santidade. (O Santidade é utilizado aqui como simples ato de retórica e atendimento as normas de utilização dos pronomes de tratamento, nada mais). Não vamos discutir aqui (nem agora) os senões que seu histórico pessoal congrega, nem a história semi-secreta dos bastidores pecaminosos da instituição papal e eclesiástica. Coisas que a História, se ainda lhe restar coragem e ainda que tardiamente, há de escarafunchar um dia. Não custa nada contudo, por hora, especularmos sobre os objetivos algo inconfessos de sua presença por essas bandas selvagens, de sem almas, miscigenados, lascivos e miseráveis. Fatos que não são levados as praças, nem chegam a opinião pública pelas vias, digamos, midiáticas, a arena de discussão pós-moderna. A TV, a seu modo, trabalhou intensa e interpretativamente o fato, porém, após uma série de injeções programadas sobre algumas futilidades dos preparativos (enxovais, decoração de aposentos etc.) para a chegada do homem, ela mais fez o papel de arauto na conquista de almas e reforço no resgate da debilitada fé dos já descrentes que qualquer outra coisa. Enquanto as ações dos Papas, como chefes políticos, tem uma virulência impressionante nos destinos de povos e nações, seus seguidores são convocados a esperar um amanhã que há de cair do céu. Cada vez mais improvável.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Catar feijão


O poeta João Cabral de Melo Neto atentou para a nossa posição de galos "tecendo manhãs" e descobriu que "catar feijão se conjuga com escrever". As mãos de D. Zefinha, minha mãe, catando feijão pela vida afora, enfrentando as labutas, carregando filhos e ensinando-os, poeticamente, a viver, ler e escrever só fez confirmar a noção do poeta: escrever se conjuga com catar feijão. Escrever nosso caminho pela vida também é catar feijão. Joga-se no alguidar todos os grãos e lança-se fora o que boiar.
Precisa dizer mais nada, meu caro!
Com certo atraso estou postando cartum do Regis Soares documentando o fenômeno BBB. Viva o os cartuns (ou seriam charges) de rua.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Tempo da bolha de sabão (poema)

Tempo, tempo, tempo!
O que me deves? Nada?

O que realmente me dás
Ó tempo de lamúrias e lantejoulas?

Em que precipícios te beijo, ó tempo?
Em que esquinas, por entre as pálpebras, me escapas?

Talvez, talvez, talvez,
Calejado tempo,
Eu é que deva a ti.
Devo a ti o medo...
da morte, do principiar, do dessemelhante...

Medo que já não devo ter,
nem requisito o direito de domá-lo.

Devo a ti um minuto intacto do meu dia inútil.

Quem sabe, a ti, deva um segundo
um daqueles bem dispensáveis
, só ele, mais nada, de atenção
às tuas fanfarronices...

Penso, a ti, deva essa bolha
em suspensão, animada e breve.

No mais, isso aqui é só um olhar de criança

Invisíveis e transparentes

Aprendemos a cada dia alguma coisa nova. Isso é meta cotidiana de quem aceitou a “indignação” como filosofia e pedagogia de vida. Para cultivar a natureza aprendiz e, quiçá, para ensinar. Aprendi hoje com Mariana Felinto (Caros Amigos, n.121, abr/2007) o triste e neologísmico verbo "auto-sabotar". Uma auto-sabotagem social de jovens que largam a possibilidade que o estudo ainda poderia permitir, para render-se ao crime (pela oferta de facilidade), a gravidez precoce (pela falta de análise do que isso representa de atraso na vida) e ao telemarketing (pela promessa de emprego, oficiallizado, fácil). Todos os caminhos mostram-se espinhosos e falsos. Levam-nos, sem dó, à sub-vida, a invisibilidade e a transparência...

"Chapas" transparentes

Leio matéria do amigo, ex-aluno e irmão, Murilo Santos (mentor do jornal Cotidiano), e gosto quando ele qualifica os “chapas” do mercado de Patos de “transparentes”. Os “não-vistos”, os não percebidos, os que, mesmo prestando um serviço importante para a vida da comunidade, não recebem a atenção ou o respeito devido. Na melhor das hipóteses são tachados de vagabundos, inúteis etc.. Os “chapeados”, se é-nos permitido tratar sua situação como felicidade, tem o mérito de uma existência real, perceptível. Representam um “monumento vivo” e andante, a dureza da vida, a incompreensão humana e a capacidade egoísta de invisibilizar o semelhante que todos nós somos portadores. No mínimo, uma denúncia.

Transparentes da nova era

A vida moderna está tratando de criar outros “invisíveis” ou “transparentes”, sob a aparência de trabalhadores da "nova era". A escritora Mariana Felinto nos põe frente a frente com alguns invisíveis contemporâneos: os operadores de telemarketing. Esses, infelizmente, na maioria jovens, são realmente invisíveis. Levados pela necessidade, são tragados pelos braços espoliadores das corporações inatingíveis e compõe o exercito da escravidão pós-moderna. Aceitos profusamente pelo mercado, que desconta até a sua fealdade, eles findam presos às armadilhas da máquina de aniquilamento de ascensões sociais. Na era da virtualidade, a indignação tem que ir além...

Invisibilidade by modernidade

“O telemarketing vem mesmo operando um verdadeiro “milagre” de recrutamento de jovens entre as classes baixas. E, como é tudo impessoal ao telefone do jovem-máquina amestrado no arremedo, como ninguém vê ninguém, o telemarketing conseguiu inclusive a façanha de solucionar o problema da “boa aparência” e do preconceito que operam contra jovens pobres que procuram emprego. O telemarketing aceita com facilidade negros, gays, gordos etc. pelo simples fato de poder ocultá-los da sociedade!” Mariana Felinto (Caros Amigos, n.121, abr/2007)

terça-feira, 24 de abril de 2007

O mundo anda de ponta cabeça mesmo. O último número da revista Caros Amigos traz uma longa matéria interrogando o que é ser de "esquerda" neste momento. Ainda não li a matéria, mas voltarei a falar dela. Antes de ler, contudo, quero perguntar: num mundo onde o suspeito PFL ousa trocar de nome para assumir um inadequado chavão DEMOCRATA, o que é mesmo ser esquerda ou direita?

Vôo filosófico do pássaro diáfano

O Pássaro Diáfano é um projeto poético. Não é apenas um livro de poemas, desses paridos a sombra. Quero-o como um grito pela condição humana do pós-tudo ou do pré-nada. Do limbo da existência, do vazio dos princípios, da insustentável tentação de não pertencer-se. Das conversações transadas, das balas trocadas com instituições e potências. Da guerra de guerrilha desses alvoreceres e ocasos do caos. O pássaro diáfano sobrevoa essas notas...

sábado, 21 de abril de 2007

Ilimitados (poema)

Poemas não começam no começo
Nem se encerram no fim...

O poema é feito do inexaurível.
Do incontido nas gentes e nas coisas

O poema cheira a brotos, nascituros,
filhos de toda a raça,
belezas em formação...
Coisas de beijar pela novidade.

Mas, os poemas,
nossos camaleões léxicos,
crias do ninho da indignação,

Tem de conter de putrefação,
esmaecer de carnes,
ocasos, perdas ...
.inconclusões.

O poema não tem que ser heróico, épico,
conformista, trágico,
moral, bonitinho,
desonestidades de fim de semana.

qualquer elo que o aprisione, dome,
ou bestialize.

Os poemas tem que ser ilimitados,
assim... como não devem boiar
na superfície das palavras.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Virtual (poema)

Nâo me veja corpóreo
Não estrague
Minha vestimenta de ouro

Não me tome corpóreo
não rasgue
meu discurso semitorto

Não me espere corpóreo
nao me largue
aos fundos do calabouço

não me tenha corpóreo
nao me pague
com suas moedas de osso

Me possua como sou agora
corda retesada sobre
o passadouro das almas.
(Edson de França)

A propósito...

A última cartunada de Régis – a desta semana - é uma espinafrada bem dirigida ao fenômeno de audiência e bestialização chamado Big Brother Brasil. Um jumento sentado numa poltrona assistindo ao programa. Quem precisa de análises mais profundas para entender a mensagem. Cabe debate? Cabe, mas recado e posicionamento crítico estão tomados. Quer mais?

Crônica-cartum de rua

A cidade de João Pessoa já se acostumou a ter cônicas-cartuns na rua. Trata-se do trabalho do cartunista Régis Soares que, em pílulas semanais, traz para a rua uma contribuição para o debate público. Questões do dia a dia na política local e nacional, petulâncias e gafes administrativas, e questões outras da vida nacional compõe o cardápio do artista. Sem maiores recursos, cumpre um papel no cotidiano dessa velha e anacrônica senhora, infensa ao sabor de determinados temas. Se o meio de comunicação faz a “agenda” pública de discussões, os mini outdoors de Régis Soares cumprem muito bem essa missão.

Humor pra se comer

O trabalho dos cartunistas e cronistas é quase sempre de circulação restrita, uma vez que sua produção é divulgada nos jornais e, infelizmente, não somos muito fâs de jornais por essas paragens. Por outro lado, os meios mais populares de comunicação – Tv e rádio – não se dispõe servi-la como iguaria no seu menu. Fala-se em inadequação de linguagem, formato e etc A internet explora bem, mas ainda não é dos meios mais acessíveis. Advogamos, porém, a necessidade de massificar o cartum. Pensamos no teor “pedagógico” do mesmo. É necessário rir ou, no mínimo, receber injeções de crítica para pensar e se posicionar. Seria salutar termos produções de cartunistas nas ruas, nos muros, nos outdoors. Crônicas que prescindem do signo verbal, porém, donas de um poder de síntese inigualável, são produtos da comunicação mais genuína e formativa do senso crítico.

Cronistas de palavra e traço

Junte capacidade de análise, humor, crítica, posicionamento frente às questões políticas sociais e terás nas mãos um cronista das palavras. O Brasil já teve grandes representantes dessa raça. A benção Machado de Assis, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga e Paulo Mendes Campos. A benção a todos aqueles cuja leitura causou-me verdadeiros deleites e aprendizados. A benção F. Pereira Nóbrega, Nathanael Alves e Gonzaga Rodrigues. A benção aos conterrâneos contemporâneos militantes, cultores e defensores dessa prática. Se as capacidades supracitadas, no entanto, forem acrescidas de um toque artístico, debochado no traço e na verve, terás, então, um cronista um pouco diferente, ou melhor, um cartunista. Esse analista do cotidiano não se esconde atrás de palavras, de relativismos ou subterfúgios verbais, como nos permite a palavra; sua ação é direta e, na maioria das vezes, corrosiva. Também não somos desprovidos de espécimes dessa fauna. A benção Aparício Torelli, o Barão de Itararé, A benção Millor Fernandes, a benção Regis Soares. A benção, então, a todos aqueles que conseguem traçar essa união de talentos para a felicidade geral da “nação” da galhofa e da crítica.

(Dicas II) www.pointsul.com.

Esse cronista que vos fala colabora, juntamente com o jornalista Vicente Campos, com o site http://www.pointsul.com/. O site é um empreendimento do jovem Lidiano Germano, no intento de fazer uma espécie de jornalismo comunitário no bairro dos Bancários e adjacências, zona sul da capital paraibana. Merece uma força!

(Dicas) www.ancomarcio.com

Um site para quem gosta de crônicas? Simplesmente, http://www.ancomarcio.com/ . Dê uma passadinha lá. Creio que não vai se arrepender. Além do bom texto, garantido pelo nível dos colunistas, você ainda ficará por dentro de algumas notícias diárias, comentários e análises sobre fatos do cotidiano. Também, alguns petardinhos críticos sobre os profissionais e a produção televisiva e radiofônica da terrinha e do país. O site é atualizado diariamente, o que garante sempre novidades. Além, claro, do humor mordaz que sempre foi o cartão de visitas de Anco.

domingo, 1 de abril de 2007

Pablo, o entrevistador

O ditado “cavalo dado não se olha os dentes” pode, a partir desse sábado à noite, ter adquirido outro sentido. E eu espero que a inteligência do povo o capte e o popularize. Reparem, caros telespectadores, na dentadura cavalar do seu mais novo candidato a repórter-celebridade. Não pela dentadura em si – temos dentuços maravilhosos circulando por aí -, mas pelo que a criatura pode representar em termos de futilidade televisiva, amadorismo e medianidade mental. A “biba oxi-chapinhada”, em sua estréia, troca, no melhor sentido da palavra, figurinhas com a entrevistada - a recém citada Narcisa Tamborindégui -, cada qual querendo vender seu peixe, aparecer, fazer figura, brilhar, enfim coisas de que o alpinismo sócio-televisivo nutre suas carnes. Nojeira! Uma entrevista entrecortada, que sugere por um lado, erros terríveis dos dois envolvidos e gafes mútuas e, por outro, um processo de edição gigantesco. Entrevistem os hercúleos editores dessa preciosidade, por favor! Talvez mais interessante, para a salvaguarda da inteligência nacional, é que fosse ao ar o making off, só para a pobreza rir e descobrir com quantos quilos de maquiagem e glacê se produz celebridades de papel. Daí, talvez, a Tv cumprisse um papel social inestimável.
Peruagem

Narcisa Tamboridégui faz jus ao nome que carrega. Prá ela tudo que não é espelho é terrivelmente feio, pobre. Narcisa é a mostra três por quatro, lambe-lambe, sem retoques, da decadência. E não é uma decandence avec elegance que nos dizia o Big Wolf, por que até a elegância no vestir e no falar da criatura são questionáveis. Não importa que ela more a beira mar, vizinho ao Copacabana Palace e soletre, - como todo papagaio de pirata que se preze - que é amiga íntima das celebridades da hora. Se o Copa representa, hoje, sinal de um tempo perdido, de um glamour improdutivo e sanguessuga, Narcisa encarna o pior desse passado inútil e um presente de reminiscências e torpor. Narcisa parece sempre chapada, como um comentário ridículo na ponta da língua, uma futilidade qualquer para expor, uma brincadeirinha de mau gosto – jogar ovos pela janela do apartamento, por exemplo – para contar e um sorriso doentio. Uma alegria “fake”. Ou seja, tudo aquilo que a população brasileira não precisa nesse momento. Peruagem, meus amigos, fora!
Viva a Noite II

Noutro vacilo do meu controle remoto, esbarro em três criaturas bizarras, sendo atração do programa. A TV do Baú sempre prezou por esses expedientes. Narcisa Tamboridégui sendo entrevistada por um tal Pablo, num papo fútil e desinteressante. Besterira - prá nao usar outra palavra num blog que se preza - pura! Mas o programa reserva mais: o punk de vitrine, filhinho de papai e mamãe e quarentão mais adolescente do Brasil, Supla, sendo entrevistador. É dose, né não?
Viva a noite

Reestreou o programa Viva a Noite, atração do Sistema Brasileiro de Televisão comandada por Gugu Liberato durante anos. Desta vez, ele vai ao ar comandado pela cantora baiana, Gil. Não perdi meu tempo assistindo ao programa, mas como sou um zapeador contumaz, um surfista das ondas televisivas, passei por lá e em segundos pude notar que algumas coisinhas permanecem iguais. O pintinho amarelinho que encheu nossa paciência por anos a fio está vivo. Popularizado pelo antigo titular do programa e sua musiquinha irritante, o pintaroco ainda está lá, todo prosa. Na Tv brasileira é sempre assim. Melhor seria, a nós telespectadores, cantarmos como a cantiga da perua é de pió a pior. A inteligência e a criatividade da TV brasileira nos assombram.

sábado, 31 de março de 2007

Até tu, Sobel !

Escândalo no reino dos éticos. Quem não conhece Henry Sobel, o rabino? Aquela personalidade carimbada dos debates, mensagens de fim de ano, natal e quetais, que desfila ao lado de líderes religiosos brasileiros, representando a religião judaica, quando trata-se de questões relativas aos eternos conflitos mundiais. Bem vindo, agora, ao conhecimento de um outro personagem: Henry Sobel, o ladino. Quem o viu incontáveis vezes falando em paz, ética na política e na sociedade, sempre como um discurso competente na causa, jamais imaginaria que ele um dia fosse acusado de roubo. E furto, pasmem, de gravatas. Como conviria a um personagem tão exposto, não uma gravata qualquer. Tinha que ser, no mínimo, Louis Vuittom. Que beleza, não! No momento em que o mundo inteiro – o latifúndio auriverde, principalmente – passa por uma crise ética fenomenal, o rabino acha de contribuir com sua parte para a fogueira da decadência. Depois dessa, provavelmente, perderemos a presença do rabino, discorrendo em rede nacional sobre as questões éticas, a civilidade e a paz. Coisas de um mundo cão.
Louco II

Temos loucos de todas os gêneros e degenerências. Loucos por música, futebol, sexo, computadores, internet, orkut, msn e por ai vai. Louquinhos de 5ª, presos a maniazinhas limitadas, consumistas. Não percamos tempo com eles. Defendamos - e defendamos mesmo - em alto, bom som e, sobretudo, caretas e eloquências, como todo louco que preza sua descendência. Prezemos o "ar blasé" dos loucos de verdade, os maluquetes de estirpe nobre. Aqueles que perambulam pelas ruas ignorando a patuléia ignara que se "acha". Aquela que vive presa à razão de uma existência ligeiramente vaga. Essa última, por incível que apareça, mantém, brega-elegantemente, também um ar de indiferença frente ao mundo que os cerca. Mas, ao contrário da dos loucos, essa indiferença de boutique é revestida de empáfia, orgulho, desprezo, nojo, medo, certeza da salvação eterna, desfarçatez e outras coisitas bem menos publicáveis.

Torquato ponto com (poema)

Quando minha alma tresloucada
ao nada vir se juntar
não desperdicem palavras
quero um epitáfio de olhares e silêncios

se uma inevitável pérola liquefeita
insistir em rolar em teu rosto
não a detenha mas, por favor,
não a multiplique

De toda a liberdade serei redimido
Que meus amigos me construam um túmulo sereno
Mas não desperdicem palavras
em sua essência

Quero um epitáfio simples
silêncios, olhares, uma alegria serena,
Porque em síntese, na vida
fui um menino de nada poucas palavras.

(Edson de França)
Louco!

Analine, 2 aninhos, minha sobrinha mais por aderência e afinidade que parentesco, me chama de louco. Em sua linguagem inocente, gira o dedinho gordo em volta da orelha para setenciar sua conclusão. Nataly, 2o e poucos anos, minha aluna do 3º período do Curso de Jornalismo, concorda inteiramente com Analine. Flagrei-a às minhas costas repetindo o gesto analinesco e mundialmente conhecido. Sentença: esse professor é louco.Nunca recebi de tão bom grado uma deferência. Os loucos herdarão a terra. E, mesmo não brigando pelo espólio desse latifundio, quero prezar a loucura. Dos loucos de pedra e a minha própria. E explico porque. Loucos apresentam um indiferença inata por tudo que diz respeito às futilidades humanas, da terra e das convenções. Um ar meio blasé. Uma coisa assim como um boi manso, ruminando, olha para uma garça que alça sua alvíssima figura num vôo elegante, ou para um seu par andante e cagante por natureza. Coisa de louco. E não faz isso por mal, com uma intencionalidade. Faz por que não vê graça nenhuma em cultivar certas leseirices da vida mundana e mesquinha.